São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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4 grupos dominam TV por assinatura

DA REPORTAGEM LOCAL

A TV por assinatura no Brasil está nascendo concentrada nas mãos de quatro grupos: Organizações Globo, Multicanal (subsidiária da Companhia de Mineração do Amapá), Rede RBS e Abril.
Os três primeiros estão voltados para a TV a cabo, onde atuam como operadores em vários Estados e como sócios da maior empresa de distribuição de programação: a NET Brasil.
A Abril esteve concentrada até agora na transmissão por microondas (através da TVA, também distribuidora de programação), mas se prepara para disputar o mercado do cabo e é sócia de nove concessões no Estado de São Paulo.
A concentração ocorreu por dois motivos: o governo só deu 101 concessões para distribuição de sinais por cabos.
As licenças foram emitidas em 90 e 91, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e desde então não houve novas autorizações.
Muitas pessoas que não tinham recursos para implantar uma TV receberam várias concessões e as venderam ou se associaram a quem tinha capital.
Segundo empresários do setor, o valor de mercado das licenças variou de US$ 30 mil, nas pequenas cidades, a US$ 500 mil, nas grandes.
Na época, a Rede RBS obteve 12 concessões para o Rio Grande do Sul e quatro em Santa Catarina. A Multicanal conseguiu três em SP e uma no Mato Grosso do Sul, mas ambas ampliaram sua fatia pela compra ou associação com outras empresas.
As Organizações Globo e o grupo Abril não solicitaram concessão à época porque apostavam em outras formas de TV por assinatura. A Globo partiu para a transmissão via satélite para antenas parabólicas e a Abril, para a transmissão por microondas (MMDS).
Quando os dois grupos perceberam a importância do sistema de cabos (só na Argentina, há 2,5 milhões de assinantes) tiveram que se associar a quem tinha concessão, mas não dinheiro suficiente para instalar sua rede própria.
O custo de instalação de cabos de fibra óptica, por exemplo, custa cerca de US$ 5 mil por km.
No Rio, a Globo se associou ao empresário de rádios Paulo Cesar Areas, detentor da licença, e instalou a NET Rio. Areas confirma que o controle pertence à Globo, mas não revela o percentual das ações.
Há quatro concessões em vigor para a cidade de São Paulo. Uma (Cabodinâmica) foi comprada em sociedade pela Globo e RBS, que montaram a NET São Paulo.
A Multicanal explora concessão própria. A terceira concessão (Comercial Cabo) foi adquirida pela Abril e a quarta, que pertencia a dois coreanos, foi adquirida pela NET Brasil, ou seja, pela Globo, RBS e Multicanal.
O processo de fusão, aquisição e associação aconteceu em todos os Estados onde há concessões.
No Rio Grande do Sul, este processo chegou ao extremo de não haver mais concorrência. Lá existem 23 concessões, todas emitidas em abril de 91.
A família Sirotsky, da Rede RBS, recebeu 12. Sete foram para a família Knob, proprietária de indústrias siderúrgicas, e quatro para outros empresários.
Segundo Aloisio Nestor Knob, sócio do grupo Knob, as quatro concessões dadas a outros empresários foram adquiridas por sua família que, por sua vez, se associou ao grupos Multicanal e RBS.
"Os investimentos são muitos grandes e fica inviável se houver concorrência nas pequenas cidades. Por isso nos unimos", diz.
As transformações no mercado são tão grandes que o cadastro oficial de acionistas das empresas em poder do governo já não tem nenhuma relação com a realidade.
O governo não tem controle sobre as transações no mercado porque a portaria 250/89, que regula a atividade, não exige que mudanças no quadro societário das empresas sejam comunicadas.
Nem a composição societária da TV a cabo de Brasília –onde fica a sede do governo federal– está atualizada no cadastro do governo.
A empresa aparece no cadastro em nome de três pessoas que já venderam suas ações para a Telcab, uma associação de brasileiros com o grupo argentino Cabtel.

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