São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Costner diz que filme humaniza herói

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Kevin Costner é o protagonista do western Wyatt Earp. Depois de ter vivido o herói de "Dança com Lobos" e de "O Guarda-Costas" e o anti-herói de "Um Mundo Perfeito", o ator reassume o papel de herói, desta vez, mais "humano".
Em entrevista à Folha, Costner conta que gosta de personagens que têm vida própria e fala da série de TV que produziu sobre a história da América antes da chegada de Colombo –que deve estrear no final deste ano nos EUA.

Folha - Este filme seria uma tentativa deliberada de desmistificar Wyatt Earp como herói do Velho Oeste?
Kevin Costner - Não exatamente. Acho que, hoje em dia, a maioria das platéias sabe que as pessoas são mais complexas –e mais interessantes– que o modo como elas sempre foram representadas na tela.
Existe muito chapéu branco versus chapéu preto na história do cinema e todo mundo sabe que, na realidade, as coisas não são bem assim. Portanto este filme não pretende desmoralizar um herói, mas mostrar esse herói como um homem.
Folha - Como em outros filmes seus, o personagem central deste filme encarna uma série de valores morais, mesmo quando ele está em conflito.
Isso é uma condição pessoal sua para aceitar um papel?
Costner - Eu acredito que os personagens devem significar alguma coisa. Até mesmo meu personagem em "Um Mundo Perfeito", mesmo não sendo um caráter imaculado, significava alguma coisa.
Quando escolho um papel, eu não procuro necessariamente o herói, mas o personagem que tem valores e convicções e que tem vida própria. Vou atrás desse tipo de personagem de propósito.
Quero que o público acompanhe a jornada de vida desse personagem e entenda seus valores morais através de suas ações, e não através de um único feito heróico.
Folha - Como todo western, "Wyatt Earp" aborda e revive a paixão dos americanos pelas armas de fogo. Qual a sua posição pessoal a esse respeito?
Costner - Eu acredito que as pessoas têm o direito e a necessidade de possuir armas de fogo. Existe uma necessidade real, hoje, das pessoas possuírem armas de fogo para se protegerem.
Mas, ao mesmo tempo, creio que já existem armas demais nas ruas e casas. E creio que as pessoas civilizadas e evoluídas que dizem que temos de pôr um fim a essa mania têm razão.
Se quisermos evoluir e assumir um lugar digno como líderes do mundo civilizado temos que achar um modo mais inteligente de abordar essa questão.
Eu sei que o direito de possuir armas de fogo está na constituição americana, mas nós não temos um pacto de morte com nossa constituição. Neste momento a constituição está nos estrangulando, e temos que encarar essa realidade.
Folha - A série de TV que você produziu, "500 Nations", estréia neste final de ano nos Estados Unidos. Quais as suas expectativas?
Costner - Eu espero que as pessoas se divirtam e se eduquem. A série é sobre a história da América antes da chegada de Colombo, e ninguém aqui realmente sabe que história é essa.
Para o homem branco, para mim, a história da América começa com Colombo –mas na verdade não é bem assim. A América começa muitos e muitos séculos antes de Colombo, com culturas e civilizações tão importantes quanto os gregos e romanos.
Os americanos de hoje não conhecem suas origens, não sabem de onde vêm. Esta série é uma coleção de histórias: a verdade histórica sobre a América que nos precedeu.

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