São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Franceses estão a 20 km de rebeldes

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Apenas 20 quilômetros separavam os soldados franceses em operação militar em Ruanda dos guerrilheiros da Frente Patriótica Ruandesa (da minoria étnica tutsi).
Há muita tensão em torno da possibilidade desse encontro, uma vez que a FPR se opõe à intervenção francesa.
A FPR voltou a bombardear os setores de Kigali (capital) que estão sob controle do governo. Um morteiro atingiu a igreja da Sagrada Família, matando cinco pessoas. Há cerca de 8.000 civis refugiados dentro da igreja.
A guerra civil começou em 6 de abril, quando o avião que levava o presidente Juvenal Habyarimana, de origem hutu, foi derrubado.
A morte do presidente foi seguida por um violento conflito entre hutus e tutsis que, pelas estimativas não-oficiais de agências humanitárias, já deixou 500 mil mortos.
Na semana passada, a França decidiu enviar tropas a Ruanda "apenas com objetivos humanitários". Como a França sustentou durante anos o governo hutu, a FPR se opôs, desconfiando que por trás do discurso humanitário estariam objetivos militares. A FPR controla dois terços do país.
O governo francês afirmou ontem à noite que seus soldados estão instruídos para evitar qualquer contato com a FPR. De todo modo, o ambiente é de tensão.
A maior parte dos soldados franceses continua no Zaire, perto da fronteira. Apesar disso, o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, afirmou que "o primeiro objetivo em Ruanda foi alcançado com sucesso".
Dezenas de religiosos de várias nacionalidades foram retirados por soldados franceses em Kibuye, região considerada "instável".
O jornal "Le Monde" publicou que a "caixa preta" do avião Falcon 50 que transportava Habyarimana e o presidente do vizinho Burundi, Cyprien Ntaryamira, em abril, estaria com um ex-policial francês que foi até Ruanda.
Paul Barril, ex-chefe de uma unidade antiterrorismo da polícia francesa, é detetive e foi contratado por Agathe Habyarimana, viúva do presidente de Ruanda, para investigar a queda do avião.
Barril deu a entender que soldados belgas podem ter participado do atentado. Ele afirmou que dificilmente os tutsis poderiam ter lançado o míssil que derrubou o avião sem apoio estrangeiro.
A empresa francesa Dassault, fabricante do Falcon 50, disse que esse modelo não contém "caixa preta" e que qualquer dispositivo desse tipo –para gravação de informações técnicas do vôo e de conversas entre o avião e os controles em terra– teria que ter sido instalada pelo próprio comprador.

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