São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Faustão e a ilusão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Finalmente, alguém deixou de lado a patriotada e falou o que devia na cobertura da Copa do Mundo, na Globo. Até Pelé vinha elogiando Dunga, no oba-oba da rede. Foi preciso o apresentador Fausto Silva para dar um basta.
Faustão é uma das poucas opiniões livres na Globo. Fala o que quer e não o que seria de interesse. Ontem, ao apresentar uma das loterias da Copa, aproveitou para dizer o que acha do time de Carlos Alberto Parreira e da ilusão.
"O país, antes de cair no real, tem que cair é na real do futebol. A seleção não vai longe. Não adianta ganhar, ser o primeiro do grupo, porque não tem opção tática nenhuma, o meio-campo não tem a mínima criatividade.
"Essa seleção não vai longe. Não adianta se iludir. Ou melhora muito e abre a cabecinha do treinador, ou vocês vão ver para onde vai a seleção. É melhor já cair na real agora, que o Brasil está cheio de ilusão."
Febre
Quem deu bem a idéia das proporções da ilusão no Brasil foi a CNN, ontem mesmo. Longamente, a rede americana falou da "alta expectativa" dos brasileiros, que foram tomados pelo que chamou de febre da Copa do Mundo.
É bem uma febre o que a CNN descreveu e mostrou, em imagens. Por toda parte, as ruas surgiram cobertas por bandeiras ou pintadas de verde e amarelo. Passistas, estudantes, "até os cachorros", todos vestidos de verde e amarelo.
Brasileiros ouvidos pela CNN diziam que "nós vivemos para o futebol", ou "a Copa só acontece uma vez a cada quatro anos e nós temos que tirar o máximo dela". As imagens, então, eram lojas, Congresso, tudo fechando.
A explicação para a febre veio de outro entrevistado, que disse que "tudo o que tivemos ultimamente foram notícias ruins: agora precisamos de algo com que nos animar". Imagens de Collor, miséria, Senna.
Lillian
Outra opinião cada vez mais livre na Globo, junto com a de Fausto Silva, é a de Lillian Witte Fibe. Na madrugada de ontem, ela fechou o Jornal da Globo com a primeira crítica da emissora, ainda que indireta, ao regime militar.
Ao dizer que "o governo da Venezuela suspende garantias constitucionais", adotou uma expressão séria para afirmar: "Não é a primeira vez que a gente vê isso acontecer."

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