São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O governo eleitoral

JANIO DE FREITAS

Depois de um final de semana passado em conversações entre Fernando Henrique e membros da equipe econômica da Fazenda, logo na segunda-feira o governo encerrou quatro meses de recusa de aumento do salário mínimo, e o fez com um pormenor esclarecedor: o aumento só vai vigorar a partir de 1 de setembro. Quer dizer, será pago no fim de setembro, imediatamente antes da eleição de 3 de outubro. Entendido?
Nunca se viu um aumento isolado do mínimo ser estabelecido para vigência tão distante, de mais de dois meses. Complemento perfeito para a mudança, tão repentina como nunca se vira na equipe econômica, da inflexibilidade que era mantida contra o aumento. Estas duas peculiaridades já denunciam que a equipe econômica foi levada a decidir-se por um aumento a vigorar nas vésperas da eleição, mas sem a obviedade comprometedora de fazê-lo em cima da hora. Há uma terceira, porém.
Com o aumentozinho de 8%, que mantém o mínimo brasileiro como a maior indecência salarial do mundo, o governo divulgou também que no decorrer de outubro estabelecerá uma política para o salário mínimo. Ou seja, o aumento agora deliberado para ser recebido daqui a três meses tem, confessadamente, uma finalidade ditada por circunstâncias de ocasião. As quais não têm a ver com a necessidade de aumento do mínimo em razão da disparada dos preços da cesta básica, tanto que o recebimento só se dará daqui a 90 dias, nem têm a ver com uma política do salário mínimo, que só será definida, se for, daqui a uns quatro meses.
Assim como aconteceu com a antecipação da data do real, que devia ser determinada com 35 dias de antecedência e o foi com 53, dando quase o dobro do tempo para os aumentos cumulativos de preços, também o aumentozinho do mínimo decorre de combinação entre o candidato Fernando Henrique e a equipe econômica, para cumprir uma função eleitoreira. Fernando Henrique está fazendo o papel convencional dos candidatos convencionais. Mas da equipe econômica e do governo em geral esperava-se um pouco mais de compostura. E de respeito, pelo menos em aparência, como é da praxe, pelas responsabilidades de que os integrantes de um governo estão investidos.
A continuarem agindo assim, o ministro Rubens Ricupero e os peessedebistas da equipe da Fazenda vão fazer o PFL sentir-se mal, na aliança com um partido tão fisiológico como se revela o PSDB.

Texto Anterior: Aumentar o salário-mínimo
Próximo Texto: Bisol apresenta 4 emendas superestimadas em US$ 8 mi
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.