São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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O sumiço do Ricardão

CARLOS ZARATTINI

O sumiçodo Ricardão
O boneco Ricardão, da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), teve vida curta. Há algumas semanas atrás, alguém teve a idéia de retirá-lo de seu posto de trabalho na Marginal Tietê e levá-lo para algum outro tipo de trabalho, não se sabe se por um salário maior ou menor.
O fato é simbólico do abandono a que a política de trânsito é relegada na atual gestão da Prefeitura de São Paulo, aumentando o caos tanto para os automóveis como para o transporte coletivo, que em 99% dos casos utilizam a mesma via.
A CET foi pioneira no Brasil dos estudos modernos de tráfego urbano e buscava corrigir os efeitos de um crescimento no número de veículos durante e após o milagre econômico.
Foi a época em que apareceram os grandes congestionamentos e se percebeu o significado da poluição do ar.
O governo Jânio Quadros tratou de desmontar aquela estrutura que só voltou a ser recuperada no governo de Luiza Erundina, onde não só se contratou pessoal técnico e operativo, mas também, reequipou a empresa com viaturas e equipamentos imprescindíveis ao seu funcionamento com o entendimento de que existia uma forte vinculação entre a política de tráfego e o transporte coletivo.
Mas, como que num desprezo com a população que gasta horas de sua vida no trânsito, Maluf reinicia o desmonte da CET, com cortes de 30% no orçamento e redução do pessoal.
Para o prefeito, problemas de trânsito se resolvem com túneis, pontes e desapropriações.
Nada mais falso. Enquanto em Nova York existem 18,5 mil funcionários ligados ao trânsito para 6 milhões de veículos e na Cidade do México 17 mil funcionários trabalham para 5.500 veículos, em São Paulo apenas 3.000 funcionários tentam organizar 4.500 mil veículos.
O resultado só poderia ser o caos, além do brutal número de acidentes com uma média de oito mortes diárias.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que o novo Código Nacional de Trânsito, em vias de ser aprovado pelo Congresso Nacional, consagra o aumento das responsabilidades do município no controle do trânsito e aposenta as velhas estruturas dos Detran (Departamento Estadual de Trânsito).
Ou seja, a continuidade do desmonte da CET significa abandonar a disciplina do trânsito e a sua engenharia à sua própria sorte, o que na possibilidade de um aumento do número de veículos pode paralisar a metrópole.
Nesse momento não será com a contratação de novos Ricardões que a cidade vai recuperar a sua fluidez. Manter a CET funcionando é vital para que diminuam os sacrifícios de todo dia dos paulistanos.

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