São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Betinho lança 'A Cura da Aids'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Portadores do vírus HIV e doentes de Aids, preparem-se para o dia da cura." Nenhum médico ou cientista teria a coragem de fazer tal anúncio. O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, teve.
Seu livro, "A Cura da Aids", que está sendo lançado hoje no Rio, diz que a doença tem cura e sua chegada "é uma questão de tempo". Deve ser vista como uma realidade próxima.
"Por isso é preciso se cuidar, manter-se vivo", ele disse ontem no Rio. "Seria terrível morrer de Aids no dia em que a cura for anunciada. Seria morrer com o último tiro da guerra que acabou."
Betinho fala com conhecimento de causa: é hemofílico e se infectou há 10 anos em uma transfusão, "quem sabe há 15". Não tem ainda os sintomas da doença.
"Mesmo se eu não estivesse bem, acreditaria na cura." Ele diz que houve "um erro científico tremendo quando se caracterizou a Aids como doença incurável".
"A afirmação não resiste à pesquisa. O horizonte da ciência é o da descoberta. Dizer o contrário é discriminar as vítimas e apontá-las o caminho do cemitério."
O antropólogo Richard Parker diz que "Betinho tem a convicção de que a cura da Aids está a caminho e que a sobrevivência hoje depende da capacidade de se acreditar nesta possibilidade".
Parker, 37, é diretor-executivo da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), dirigida e fundada por Betinho em 86.
É também o organizador de "A Cura da Aids" e participa de dois outros livros que também serão lançados hoje.
Há 12 anos estudando e vivendo no Brasil, Parker é hoje um especialista da "cultura erótica brasileira". É um dos assuntos que aborda no seu livro "A Construção da Solidariedade".
Algumas de suas observações: "há uma fluidez nos costumes que permite espaço para relações homo e bissexuais".
Segundo ele, a cultura do machismo dificulta a prevenção por parte das mulheres e, ao exigir o uso do preservativo, ela coloca em questão sua fidelidade e limita a liberdade do homem.
A cultura brasileira, diz Parker, valoriza o erotismo e a transgressão. "O que é excitante é sempre o transgressivo", diz.
"Enquanto as campanhas não considerarem estes fatores, não se conseguirá prevenir a Aids."

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