São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Itália se classifica e teme pegar Argentina

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Foram quatro horas de intenso sofrimento, uma verdadeira danação. Mal terminou ontem o prélio do RFK Stadium de Washington D.C., um empate lancinante com o México, 1 x 1, os jogadores da Itália tomaram o seu banho e se aboletaram no ônibus sofisticado que os levaria ao aeroporto da capital, em tempo do vôo das 19 até Nova York. Quase ninguém conversava, mal se escutavam as reclamações de Roberto Donadoni, sempre sem isqueiro, à cata de fósforos para o seu cigarro pós-partida. Apenas interessava aos integrantes da "Squadra Azzurra" a peleja entre Camarões e a Rússia, no Grupo B da Copa. Qualquer resultado, afinal, abaixo de uma vitória de Camarões por 3 X 0, garantiria ao time da Bota a sua passagem à fase das oitavas do Mundial.
Houve quem lembrasse o torneio da Espanha/82, quando a "Azzurra" periclitou na etapa de qualificação mas acabou ficando com a vaga precisamente às expensas de Camarões - para depois arrebatar o sua terceira taça. Arrigo Sacchi, o arrasado mister da seleção, não aceitou a esperança e nem o consolo. "Quando Massaro realizou o seu gol, em sinceramente me considerei classificado. Então, entregamos a igualdade numa sucessão de falhas e de distrações na defesa. O time se enervou. O nosso jogo se transformou em confusão." Antonio Matarrese, o presidente da federação da Bota, também o vice da Fifa, deu um abraço em Sacchi, diante das câmeras de TV da RAI, a rede estatal da Bota, e declarou: "Estou satisfeito. Deveríamos ganhar. O destino, porém, decidiu nos infernizar nesta competição. Quem sabe nas próximas rodadas uma outra sorte nos recompense por tanta penitência". Sacchi concordou: "Verdade, a boa fortuna se esqueceu de nós. Agora, só existe uma coisa a fazer. Aguardar".
O clima de funeral também envolvia os jornalistas peninsulares. Giampiero Galleazzi, famoso pela condução do programa "Novantsimo Minuto", que exibe nas tardes de domingo os tentos do campeonato nacional, parecia tão abobado que até se esqueceu de trocar de camisa ao fazer uma intervenção a vivo. Surgiu no ar todo empaçocado, o tecido molhado e o rosto rebrilhando de suor. "Continua o 'íncubo'", disse ele, enfatizando a palavra italiana para tabu e maldição. A "Azzurra" insiste, propõe um batalhão de situações e no instante fatal não consegue anotar o tento decisivo. Precisamos nos benzer".
Na chamada "mixed zone", onde a mídia se encontra com os atletas e com os treinadores ao encerramento das pelejas da Copa, nenhum dos jogadores da Itália apareceu. Nada discretamente por lá passou o atacante Beppe Signori, que trocou de camisa com o reluzente Jorge Campos, arqueiro do México. Signori, todavia, apenas exibiu as cores do adversário, sem emitir uma palavra. Mais gentil, Carlo Ancelotti, o assistente de Sacchi, autografou blocos de notas e liberou um comentário irretocável: "Dificilmente deixaremos de conseguir a vaga. Depois, porém, pegaremos a Argentina (75% de probabilidades) ou a Suíça (25%). Necessitaremos melhorar muitíssimo para permanecer no Mundial".

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