São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Hitchcock filma prazeres da mesa em 'Frenesi'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Frenesi
Produção: EUA, 1972, 116 min.
Direção: Alfred Hitchcock
Canal: Globo, 1h50

"Frenesi" é o que se pode chamar de filme alimentar, no bom sentido. Em primeiro lugar, existe o mercado, o soberbo mercado de alimentos que Hitchcock descreve com uma dupla paixão: pelo suspense e pela comida.
Depois, existem as batatas, cujos sacos terão uma função quase tão importante no filme quanto as gravatas com as quais mulheres são estranguladas ou um baú que encerra uns tantos mistérios.
Há, por fim, um monte de mulheres feias nessa história que não nega a tradição hitchcockiana: a ex-mulher de Jon Finch aparece assassinada e ele é acusado pela série de crimes que está acontecendo em Londres.
Ele é, como de costume, um falso culpado e passará o filme tentando demonstrar sua inocência. Mas a estrela do filme são, a rigor, as mulheres e a comida. É a mulher do inspetor Oxford quem aparece com as melhores intuições sobre o crime, enquanto o marido bate cabeça, atrás de pistas lógicas, porém furadas.
Se num primeiro momento a mulher parece enlouquecer o marido com suas hipóteses, o pior são as refeições que prepara. Ela está fazendo um curso de cozinha francesa ("continental food") e todas as noites reserva para o marido alguma iguaria tão sofisticada quanto mínima na quantidade e exótica (para os padrões ingleses) no conteúdo.
A horas tantas, veremos o inspetor numa lanchonete, saboreando um hambúrguer (ou algo assim) tão vulgar quanto volumoso. É em torno da mesa que se resolvem duas paixões do mestre inglês em seu penúltimo filme: a comida e o mistério. É um filme de gordo. Um filme de comilão que coloca o humor à frente de tudo, e também do cineasta soberbo que, nessa altura da vida, não apenas filma com prazer (como sempre), mas faz questão de pôr em cena seus prazeres.(Inácio Araujo)

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