São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Cinemateca comemora fim da Vera Cruz

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ciclo: Vera Cruz - 40 Anos da Falência da Fábrica de Sonhos
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 011/881-6542, Pinheiros, zona oeste)
Quando: até 4 de julho

É uma espécie de anticomemoração: já no nome –"Vera Cruz - 40 Anos da Falência da Fábrica dos Sonhos"–, o ciclo que a Sala Cinemateca está apresentando desde ontem evoca um fantasma insepulto no imaginário cinematográfico brasileiro.
Criada por Franco Zampari em 1949 para instituir no Brasil uma verdadeira indústria cinematográfica, a Vera Cruz trouxe o brasileiro Alberto Cavalcanti da Inglaterra e, com ele, uma multidão de técnicos capazes de, supostamente, suprir as deficiências nacionais no ramo.
Os equipamentos importados eram o que havia de moderno e eficiente na época. Os estúdios de São Bernardo do Campo não passariam vergonha em Hollywood. De resto, a companhia criou um "star system" nacional, com atores exclusivos e pagos por mês.
Como se sabe, o projeto deu para trás sobretudo por julgar que o cinema funciona em função da "qualidade": sem distribuição própria, a Vera Cruz naufragou em poucos anos.
Deixou como saldo positivo a formação de alguns técnicos e, sobretudo, a experiência frustrada. Foi com base em tudo que deu errado nesse período que o Cinema Novo fundamentou sua experiência de produção.
O ciclo da Cinemateca não traz propriamente nenhuma novidade. Tal seria. O mais raro são os três curtas de Lima Barreto, "Painel" (1950), "Santuário" (1951) e "São Paulo em Festa" (1954).
Sua deficiência talvez seja não promover qualquer debate sobre o tema, quando ainda existe uma série de pessoas envolvidas com ele (o diretor Walter Khouri, o montador Mauro Alice) ou estudiosos que cuidaram detidamente do assunto (Maria Rita Galvão).
A Cinemateca optou, no entanto, por uma programação burocrática, já que a maior parte dos 18 longas a serem apresentados costuma passar em TV ou está editada em vídeo.
Ainda assim, é uma oportunidade que se oferece para ver, de enfiada, as diversas tendências desenvolvidas pela companhia (entre dramas, comédias, espetáculos históricos ou regionais), o choque entre os filmes "estrangeiros" (de realizadores como Adolfo Celi, Tom Payne etc.) e os "nacionais" ("O Cangaceiro", de Lima Barreto, mas também os primeiros trabalhos de Mazzaropi, produções modestas mas de enorme sucesso já na época).(Inácio Araujo)

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