São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Mel Tormé traz sua voz de veludo ao Brasil

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Só há uma coisa a dizer: até que enfim. Ponto de exclamação.
Entra ano, sai ano, a gente implorando por Mel Tormé no Free Jazz, e neca. Ele até que queria vir, as irmãs Gardenberg, organizadoras do evento, sonhavam com sua presença –mas a grana sempre era curta. "Desta vez, acertamos os ponteiros", diz o cantor, excitadíssimo com a perspectiva de conhecer "o mitológico Rio de Janeiro" daqui a quatro meses.
Quem não o conhece, não sabe o que perdeu esses anos todos. Pois Mel Tormé não é apenas um cantor genial, musicalmente perfeito, como está nas lides desde os anos 40. Fazendo de tudo: cantando, compondo, burilando arranjos, atuando no cinema e na televisão. Até livros costuma escrever. Apesar da idade (faz 69 anos em setembro), não perdeu um fiapo de sua voz aveludada, talvez a mais aconchegante que o jazz já conheceu. O disc-jóquei Fred Robbins não estava para hipérboles quando o apelidou de "The Velvet Fog".
Nascido em Chicago e descendente de judeus russos, originalmente chamados Torma, Melvin Howard Tormé deve seu prenome à admiração que sua mãe tinha pelo ator Melvyn Douglas. Para não decepcioná-la, Mel entrou cedo para o "show business". Tinha apenas quatro anos quando ingressou na banda de Coon-Sanders. Cinco anos depois, fazia carreira como rádio-ator. Nada demais se considerarmos que ele, com apenas dez meses de idade, já era capaz de cantar uma canção inteira. Qual? Só a mãe dele sabia.
Aos 15, a primeira composição. Aos 17, a estréia com uma banda de renome em Nova York, "liderada" por Chico Marx. Pouco depois, a primeira tacada de gênio: a criação do que muitos acreditam ter sido o mais afinado, inventivo e influente conjunto vocal de todos os tempos, os Mel-Tones.
Sua estréia no cinema coincidiu com a de Frank Sinatra: ambos desfilavam na passarela de "A Lua a seu Alcance" (Higher and Higher) e assinariam contrato para outros musicais na MGM. O cinema, porém, acabou ficando em segundo plano. Baixinho, não tinha pinta de galã. Preferiu ser astro da canção. Sempre na companhia de cobras, como Artie Shaw, Marty Paich, George Shearing, Gerry Mulligan e tantos outros.
Estava acompanhado pela orquestra de Woody Herman quando o vi cantar pela última vez, em 1985, durante o flutuante festival de jazz que o navio Norway organiza todos os anos por algumas ilhas do Caribe. Magnífico. Quando chegava a madrugada, ele dava uma canja no bar, tocando bateria, instrumento que domina com o "aplomb" de um profissional.
Perguntado se pretendia exibir-se com as baquetas no Free Jazz, Mel Tormé disse que sim. Disse uma porção de outras coisas, numa conversa por telefone, de sua casa em Los Angeles.
LEIA MAISsobre Mel Tormé à pág. 5-3

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