São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Preguiça reina nas termas de Montecatini

WILLIAM WEAVER
DO "TRAVEL/THE NEW YOK TIMES"

O ócio é extremamente atraente, especialmente quando alguém diz que ele faz bem à sua saúde.
Estações de águas, em particular, parecem criar um ritmo que se torna imediatamente agradável. Montecatini, no centro da Toscana (Itália), é um dos spas mais famosos e populares da Itália.
Ao contrário do que acontece em quase todas as cidades italianas, aqui não há lugares de visitação obrigatória com que se preocupar: nada de museus abarrotados de obras-primas, igrejas magníficas ou palácios cheios de afrescos.
Os que não sobrevivem sem altas experiências culturais têm boas oportunidades ao alcance. Agências de viagem locais oferecem excursões diárias, todas as tardes, às vizinhas Pisa ou Lucca, a cerca de uma hora de distância.
Mas é mais provável sucumbir à tentação de se entregar serenamente ao sossego, para não dizer preguiça, de Montecatini.
Com uma população de cerca de 20 mil habitantes, a cidade tem uma vida que vai muito além das termas. No Corso Roma, como em uma pequena cidade comum da Toscana, há lojas e tranquilos quarteirões de apartamentos.
A maioria dos visitantes está aqui com um propósito: melhorar a saúde. Desde a Idade Média, Montecatini é famosa por suas águas.
Elas são mencionadas em uma carta de 1387 escrita por Marco Datini, o famoso "mercador de Prato", a um médico florentino: "Muitas pessoas vão aos banhos em Onte Chatini", diz.
Alguns anos depois, Ugolino Simoni, cientista e cronista local, escreveu (em latim) que a água local "relaxa o estômago e dissolve pedras de maneira assombrosa".
O grão-duque Cosimo 1º de Medici interessou-se pelos banhos. Seu sucessor, o grão-duque Pietro Leopoldo, mandou construir novas termas. Hoje, as termas Leopoldinas homenageiam seu importante patrocínio.
No final do século 18 a cidade começou a adquirir seu aspecto atual, embora boa parte de sua arquitetura mais importante date da virada deste século.
A rua principal, a Viale Verdi, segue em suave aclive até alcançar o parque em que se espalham as principais nascentes: a Leopoldina, a Regina e a Tettuccio, há muito considerada a casa mais elegante.
Subindo a Viale Verdi em direção ao Tettuccio, encontra-se o Excelsior, um prédio "art déco" com um convidativo café-bar que é ideal para se observar os passantes, um esporte em Montecatini.
Atrás do Excelsior, na bilheteria central do parque, os visitantes podem fazer uma assinatura que lhes dá acesso a várias termas durante sua estada.
A fonte de Leopoldina é especializada em banhos minerais e de lama, além de massagens. A seguir surge a imponente fachada da Tettuccio, um longo retângulo de pedra com toldo de vidro e portões de ferro forjado.
Os hotéis não oferecem tratamentos e o visitante pode escolher entre as termas segundo seu capricho ou necessidade médica.
Todas as casas são abertas a qualquer cliente pagante, mas a Tettuccio é tradicionalmente considerada a mais elegante –era a favorita do compositor Giuseppe Verdi, que a frequentou anualmente por 18 anos.
Mesmo com as regras sobre vestuários praticamente desaparecidas da Itália, nos grandes vestíbulos da Tettuccio a maioria dos cavalheiros usa hoje terno e gravata; algumas mulheres, chapéus e luvas.
A entrada,por um dia, custa cerca de US$ 10 (cerca de 10 URVs). Um copo plástico descartável custa US$ 0,40 (0,40 URV). É possível também alugar uma genuína caneca de vidro durante a estada.
No átrio principal há uma comprida mesa de mármore com várias torneiras, cada qual rotulada de acordo com a fonte –Regina, Torretta, Tettuccio–, e você pode encher seu copo à vontade.
As várias águas têm qualidades diferentes e são recomendadas para queixas específicas. A mais suave é a Tettuccio salgada, um diurético eficiente. Também é vendida em garrafas nas farmácias locais.
Muitos escolhem perambular, copo na mão, pelos caminhos de curvas suaves entre as árvores.
Para dar uma boa olhada na cidade, do alto, você pode dar uma volta no teleférico (custa cerca de US$ 3/3 URVs). Há quase um século o carrinho sobe aos trancos e solavancos até Montecatini Alto, cuja fortaleza domina a planície sobre a qual se estende hoje o spa.
Subindo entre copas de acácias e castanheiras, o teleférico permite entrever olivais e campos cultivados. Da cidadezinha medieval do alto, um mirante convida à contemplação do poético vale de Nievole, ao norte.
Também existem vários restaurantes e cafés convidativos para uma xícara de chá ou café na pracinha livre de tráfego.
À noite, alguns visitantes de Montecatini, exaustos de um dia sem fazer praticamente nada, recolhem-se cedo.
Todos os hotéis oferecem uma sala com algumas mesas de pano verde para jogos de "bridge" ou canastra, temperados pelas fofocas que são parte da vida no spa.
Durante a temporada –do início de maio até o final de outubro–, há eventos regulares no teatro ao ar livre do parque.

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