São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Brasil e Argentina salvam esta Copa

JOHAN CRUYFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira fase da Copa foi, na minha opinião, decepcionante em todos os níveis. Poucas seleções mantiveram um nível aceitável de jogo. Praticamente não houve jogadores que chamaram a atenção no aspecto positivo e, se observarmos a qualidade futebolística, esta Copa tem um nível mais baixo do que a da Itália, em 90.
Pode ser incrível, mas há pouquíssimas coisas dignas de serem comentadas por seu aspecto positivo. Hoje mencionarei as melhores seleções.
Por enquanto, só duas equipes exibiram um futebol desenhado para ganhar, mas ambas têm uma série de dúvidas e interrogações que podem fazê-las perder o passo antes da final.
O Brasil é talvez a seleção com os ingredientes necessários para fabricar um futebol de qualidade. Seus jogadores são técnicos, a maioria deles atua no futebol europeu –e isso é uma vantagem para aumentar a competitividade– e a concepção da equipe está baseada no movimento da bola. É justamente aí que surge a maior dúvida sobre a sua capacidade de definição do Brasil.
Explico. O Brasil passou por uma fase de classificação duríssima. Percebeu que só poderia chegar ao seu nível mais alto se contasse com um jogador, Romário, capaz de traduzir em gol todo o jogo coletivo. E agora, já no Mundial, este ponto débil do Brasil se mantém.
Essa aposta é boa, mas arriscada. O que pode acontecer se de repente a magia de Romário desaparecer? É por isso que não posso acreditar de olhos fechados nessa seleção, apesar de gostar de seu futebol.
A Argentina é o outro ponto alto do torneio. Entrou na Copa pela porta de trás e não precisou de mais de 180 minutos para mostrar a todo o mundo que está apta a ganhar o Mundial.
Isso não quer dizer que seu futebol me apaixone. Diria que estou distante da concepção de jogo argentina, ainda que seus argumentos em campo sejam firmes o suficiente para que os argentinos fiquem satisfeitos e otimistas quanto ao futuro.
Mas a Argentina arrancou firme com Maradona e, naturalmente, depois do escândalo do doping, pode ver atingido seu rendimento coletivo. Não sou da opinião de que Maradona tenha sido determinante para sua campanha, mas acho que sua presença no campo foi importante para os rivais, que se preocuparam com Diego, e para os seus companheiros, que se sentiram respaldados.

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