São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Verdadeiro Kleist está em 'A Bilha'
MARILENE FELINTO
A montagem de Marcio Aurelio respeita o tom cômico e de crítica social da peça do dramaturgo alemão Estará em cartaz por apenas mais dois finais de semana (até 10 de julho) no teatro Ruth Escobar a peça "A Bilha Quebrada", texto do dramaturgo alemão Heinrich von Kleist (1777-1811), com a Companhia das Razões Inversas e direção de Marcio Aurelio. O espetáculo, que estreou em maio do ano passado, ganhou o prêmio Apetesp de 1993 e foi indicado para os prêmios Shell de figurino e direção. A reestréia em curta temporada inclui mais um mês de apresentação, no teatro do Centro Cultural (a partir de 15 de julho). "A Bilha Quebrada" é uma boa oportunidade não somente para conhecer o trabalho desta companhia de jovens e excelentes atores como também para assistir a um espetáculo de teatro "normal" –uma montagem simples mas bem-feita, de uma peça divertida mas inteligente. Trata-se de um caso de corrupção no Judiciário. Um juiz corregedor faz visita de fiscalização a uma pequena comarca do interior, onde se julga o acusado de ter quebrado a preciosa bilha, ou jarra de barro, de uma vizinha. No decorrer do julgamento, e através de uma linguagem fundada no duplo sentido das palavras –em certos momentos a tradução perde a força e os jogos de palavras ficam por demais óbvios–, vai-se percebendo qual o verdadeiro crime, e quem é o surpreendente verdadeiro culpado. A agilidade da linguagem de Kleist é, aliás, um dos principais núcleos cômicos da peça. O trabalho dos atores João Carlos Andreassi (como o juiz Adão), Marcelo Lazzaratto (como o escrivão Luz) e Débora Dubboc (como Eva) é digno de nota, pela segurança da interpretação e pela marca pessoal que cada um soube atribuir a seu personagem. O cenário limpo –uma sala de tribunal em forma de ringue, onde se confrontam a corrupção e a ordem– mas superadequado soma-se a um figurino de época clássico mas despojado. Esta deliciosa comédia de Kleist é também uma chance para se observar o que há de romantismo alemão no Brasil de hoje. Que se aproveite também a oportunidade para se comparar esse verdadeiro Kleist com o outro, em que se inspirou Daniela Thomas, cenógrafa e figurinista, para escrever a peça "Pentesiléias", também em cartaz na cidade, com direção de Bete Coelho. A peça de Thomas passa longe do original de Kleist. É uma adaptação livre, carrancuda e exagerada na dose de entranhas femininas. Thomas narra em verborragia pós-feminista a vida da apaixonada rainha das Amazonas, a Pentesiléia que é traída pelo marido e resolve castrar todo o seu reino (exceto sua filha) como vingança. É comparar o Kleist cômico da crítica social em "A Bilha Quebrada" com a tragédia de Daniela Thomas. Ainda que um país das dimensões do Brasil precise muito mais de uma arte como o cinema –do tamanho da tela, da velocidade da câmera– para expressar sua realidade. Ainda que teatro seja para ilhas como a Inglaterra. Peça: A Bilha Quebrada Direção: Marcio Aurelio Elenco: João Carlos Andreassi, Marcelo Lazzaratto, Paulo Marcello Onde: teatro Ruth Escobar/sala Gil Vicente (r. dos Ingleses, 239, tel. 011/251-4891) Quando: de quinta a sábado, às 21h, domingo, às 20h; até 10 de julho Preço: CR$ 12 mil Texto Anterior: Filme narra "conflitos" Próximo Texto: Teatro Municipal adia sua temporada lírica Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |