São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Estúdios Disney atiram 'Hamlet' aos leões

HÉLIO GUIMARÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Filme: O Rei Leão (The Lion King)
Produção: Walt Disney Pictures (EUA, 1994)
Direção: Roger Allers e Rob Minkoff
Trilha sonora: Elton John e Tim Rice
Cinemas: Paulista 1, West Plaza 4, Gazetinha, Iguatemi, Paulistano, Olido 1, Aricanduva 1 e circuito

"O Rei Leão" não tem o lirismo de "A Bela e a Fera" nem o encantamento de "Aladdin". Desta vez, a Disney fez uma tragédia, e a fonte é Shakespeare.
Cobiça, violência, morte do pai, assassinatos de reis, usurpação do trono e violência são as palavras-chave do desenho animado, uma espécie de "Hamlet" com a marca Disney e uma boa dose de humor.
Tudo começa com o nascimento de Simba, único herdeiro legítimo de Mufasa, rei do próspero e verdejante território de Pedra do Rei, na África. Scar, irmão do rei, insatisfeito com o bebê, planeja assassinar Mufasa, dar um sumiço no sobrinho e ocupar o trono.
Com a ajuda de um bando de hienas, Scar realiza seu plano. Convencido pelo tio de ser responsável pela morte do pai, Simba, ainda criança, foge do reino. Scar assume o poder e revela-se um tirano, enquanto suas comparsas, as hienas, devoram o que encontram pela frente.
Passam-se os anos. As savanas de Pedra do Rei perdem o viço. O reino próspero torna-se sombrio, e o povo passa fome. Até que o fantasma do pai aparece para convencer Simba, ainda no exílio e já adulto, a se vingar e ocupar o trono do reino.
Como se trata da Disney, não poderia faltar uma mensagem edificante ao clima hamletiano. Neste filme, ela se explicita já no clipe de abertura. A idéia é a seguinte: há uma ordem natural que deve ser respeitada, "porque estamos todos ligados no grande ciclo da vida", conforme a letra da canção.
Padrão Disney
Mas o grande trunfo do filme é o padrão de qualidade Disney, comprovado pelo sucesso de mais de 70 anos. Está tudo lá: cores irretocáveis, recriação milimétrica de movimentos e expressões dos personagens, paisagens magníficas.
Os efeitos especiais encarregam-se de superar o padrão. No clímax do filme, uma manada de antílopes desembesta por um imenso cânion. A sequência dura dois minutos e meio e compete, em apuro técnico e naturalismo, com os movimentos dos bichos de Spielberg em "Parque dos Dinossauros".
O roteiro fica devendo à excelência da animação. No início, todas as ações dos personagens são detalhadas, justificadas, criando uma verossimilhança capaz de aterrorizar até adultos mais relaxados na poltrona.
Já no final do filme, as soluções parecem rápidas demais. Personagens centrais no início da história, como o pássaro Zazu, uma espécie de mentor de Simba, desaparecem sem que o espectador saiba por quê.
Este 32º longa-metragem de animação da Disney traz uma novidade em relação aos anteriores. Várias estrelas de Hollywood dublam personagens do filme. Elton John, uma estrela do universo pop, também foi escalado para compor a trilha em parceria com letrista Tim Rice.
As composições de Elton John e Tim Rice também não deixam de satisfazer o padrão de qualidade dos estúdios. Como em "Aladdin", a dupla passa um verniz étnico nas canções no velho estilo dos musicais. Mas Alan Menken (parceiro de Tim Rice e Oscar de melhor canção no ano passado por "A Whole New World", de "Aladdin") faz falta.
Recorde
O público não parece preocupado com nada disso. "O Rei Leão" estreou no fim-de-semana passado nos EUA e arrecadou US$ 42 milhões. Recorde deste ano, batendo inclusive "Os Flinstones", que fez US$ 37,2 milhões no fim-de-semana de estréia.
A trilha já está nas paradas de música pop da revista "Billboard". O detalhe é que atingiu a 13ª posição duas semanas antes da estréia nos EUA.
"O Rei Leão" é só mais uma produção da Disney, o que não é pouco. Tem todos os ingredientes para eletrizar platéias e lotar cinemas nos quatro cantos do mundo.

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