São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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E se o plano der certo?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Soma, realizada nesta semana com 611 eleitores do Distrito Federal, reforça com números uma suspeita generalizada –o plano econômico, lançado ontem, é o mais importante cabo eleitoral de Fernando Henrique Cardoso.
Inicialmente foi indagado em quem o eleitor votaria. Deu Lula disparado na frente (39%). Fernando Henrique ficou com 18%. Traduzindo: o PT ganharia no primeiro turno. Introduziu-se, então, mais uma pergunta: se o real for um sucesso, como você votaria?
Aí Fernando Henrique pula para primeiro lugar, obtendo 39%, abrindo espaço especialmente nas camadas mais pobres. Lula cai, com 30%. Esse resultado é um indicador valioso. Mas deve ser lido com cuidado. Em primeiro lugar, porque o levantamento está limitado a Brasília, não refletindo necessariamente o ânimo nacional.
O problema, no caso, é saber exatamente o que significa sucesso para o eleitor. Sucesso para a maioria significa mais dinheiro no bolso. Será que, até outubro, a população já terá essa sensação?
Tão importante como ser um sucesso é parecer um sucesso. Vão pesar não apenas os índices de preços. Vai pesar também a eficácia do governo e de seu candidato à Presidência em venderem o plano como algo que veio para melhorar a vida dos cidadãos.
Lula passa a depender também da sua eficácia em convencer os eleitores de que eles estariam diante de uma armadilha de campanha. Faltam poucos meses até a eleição e os efeitos no bolso do cidadão tendem a ser lentos –não se deve desprezar, portanto, a chance desse ataque pegar. Depois de tantos fracassos e frustrações, o brasileiro está sempre com um pé atrás.
Óbvio que, nesse jogo, é decisivo o papel dos veículos de comunicação. Vamos ver se teremos um repeteco do estilo "tem de dar certo", do Plano Cruzado, num otimismo irrealista. Ou se as falhas do plano serão realçadas, apontando-se suas eventuais fragilidades.

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