São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Ficha do SNI acusa Passarinho

ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Depois de assumir o governo do Pará após 64, com o apoio do governo militar, Jarbas Passarinho "nomeou para cargos importantes no Estado atuantes figuras de esquerda, facilitando o reaparecimento nas atividades públicas de personalidades condenadas pela Revolução".
A informação consta da ficha do senador junto ao SNI (Serviço Nacional de Informações), obtida com exclusividade pela Agência Folha.
O SNI, que completaria 30 anos no último dia 13, foi criado como órgão de inteligência dos governos militares. Foi extinto no governo Collor.
Com nove páginas, a ficha destaca que, apesar de ter defendido "os princípios que nortearam o movimento revolucionário", o senador se aproximou da esquerda após assumir o governo do Estado.
"Colheu considerável apoio de grupos de esquerda, em face de contatos e articulações políticas com personalidades atingidas por atos da Revolução", informa o documento.
Fornecido ao senador em 12 de setembro de 89, o documento traz uma série de acusações. Afirma que, em 1967, Passarinho, "já como ministro do Trabalho, continuava mantendo contatos com subversivos".
O documento cita que entre estes subversivos estavam "inclusive os que atuavam junto ao Sindicato dos Oficiais de Máquinas de Transportes Fluviais do Estado do Pará".
Diz ainda que o então ministro foi denunciado por um representante do sindicato por "estar prestigiando a força da subversão naquele órgão".
Nenhum comentário é feito na ficha sobre o fato de que, apesar dessas denúncias, Passarinho ocupou diversos cargos nos governos militares: ministro do Trabalho (67-69), Educação (69-74) e Previdência (83-85), líder e vice-líder do governo no Senado.
O senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) afirma que o SNI não poderia funcionar como órgão de inteligência se não tinha sequer funcionários capacitados para fazer análise de ideologias políticas.
"O SNI era uma pena porque seus funcionários não sabiam analisar ideologias."
Um dos exemplos do despreparo dos analistas do SNI, afirma o senador, está na terceira das nove páginas da ficha.
Lá consta que um jornal de Recife registrou, em 1971, que o então ministro da Educação havia afirmado que "o Brasil estava saindo de uma fase do neocapitalismo para um socialismo cristão".
Na verdade, ele disse ter mencionado o "solidarismo" cristão. "O jornal cometeu o erro e o serviço registrou a notícia na minha ficha sem notar o absurdo da expressão."
Passarinho diz lamentar que o serviço, criado sob inspiração do general Golbery do Couto e Silva, não tenha desenvolvido um trabalho profissional de informação política.
"Vi com tristeza a minha ficha porque o SNI era um órgão criado com a responsabilidade de ajudar um governo antimarxista, no caso, contra o comunismo", disse o senador.
Passarinho diz que são descabidas as informações de que tinha contatos com subversivos.

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