São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC ensaia uma nova política monetária

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O mercado suspeita que o Banco Central irá trabalhar neste início de julho com juro real de 5% e inflação em real de 2,3%. Ela se baseia nas pistas fornecidas pelo BC no CDI-over e no câmbio.
As negociações a termo no over-selic para o dia 4 foram feitas na quarta-feira da semana passada a 12,50%. No dia seguinte o CDI-over, já antecipando a abertura do over-selic amanhã, foi negociado a 10,75%.
O que aconteceu de quarta para quinta-feira para justificar essa queda? Um possível vazamento/recado do Banco Central ao mercado de que o over deve abrir em julho na faixa de 10,75%.
Essa taxa significa juro diário efetivo de 0,358% e projeção de rentabilidade de 7,42% ao longo dos 20 dias úteis do mês.
As atuações do BC no câmbio comercial nos dias 29 e 30 também forneceram dicas valiosas. A taxa de câmbio é fixa? É, mas apenas na ponta de venda. Mas na de compra –e o grande, praticamente único, comprador é o BC– prevalecerá a flexibilidade.
Nos dois últimos dias de junho o aviso do BC foi claro: adquire o dólar com deságio entre 5% e 7,5% em relação ao R$ 1,00 do congelamento da cotação de venda.
Com esse "spread" muito alto para uma economia supostamente estável, o BC quer justamente desestimular a oferta de dólares.
Se algum investidor estrangeiro ou exportador nacional quiser vender seus dólares ao BC para aproveitar os juros reais de julho, terá de pagar imposto de até 7,5%.
Isso leva o mercado a concluir, sensatamente, que o juro real não será menor que 5%.
O investidor converte seus dólares por reais, paga o pedágio de 7,5% e aplica no CDI.
O que receberá? Juro real negativo de 2,38%. Trata-se de uma forma velada e inteligente de impedir que as metas de emissão do real –R$ 7,5 bilhões até o final de setembro– estourem por pressões cambiais.
O BC não precisaria recorrer a spread tão dilatado se o juro real também não fosse do mesmo calibre. O tamanho do juro real que o BC definirá amanhã é essencial para a avaliação das melhores aplicações em real.
Supondo-se juro real de 5% e projeção inicial de ganho efetivo do over de 7,42%, a inflação em real com a qual trabalharia o BC não passaria de 2,3%. Muito baixa.
O Departamento de Economia da "Agência Dinheiro Vivo" estima um IPC-Fipe de 4,2%. Ou seja, fixando um over em 10,75%, o BC abrirá espaço para a criação de expectativa de alta do over ao longo do mês.
Isso afetará a rentabilidade dos CDBs prefixados de 30 dias que voltam a ser negociados amanhã. Para pagar juro real de 5% sobre a expectativa de inflação de "Dinheiro Vivo", o CDB deveria oferecer juro de 9,41% ao mês ou 194,23% ao ano.

Texto Anterior: Pequenos devem ficar fora
Próximo Texto: Empresas devem fechar balanço
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.