São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Bolsas evitam cifras redondas

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores nas Bolsas de Valores parecem ter horror aos zeros. Os índices que medem o volume diário de negócios raramente fecham o dia perto da centena ou do milhar: sobem ou caem, se afastando dos números redondos.
}Isso não parece racional, mas acho que as pessoas não são racionais, diz o economista Philip Stork, da Universidade Erasmus, em Roterdã (Holanda).
Ele publicou na revista }Economics Letters um trabalho em que avalia a pressão psicológica que números redondos exercem sobre os investidores na Bolsa.
Para seu trabalho, recolheu os índices diários de fechamento das Bolsas de Frankfurt, Bruxelas, Londres, Tóquio e um índice composto dos Estados Unidos entre janeiro de 1980 e fevereiro de 1992.
Verificou que fechamentos em números redondos eram mais raros que o esperado se não houvesse influência de fatores psicológicos.
}As pessoas tomam números redondos como pontos de referência, diz Stork. }Parece mais lógico agir quando algo passa de 2.000 do que quando passa de 2.037.
Para contabilizar esse efeito psicológico, Stork olhou somente para os dois últimos algarismos dos índices de fechamento.
Se um número redondo não exercesse pressão alguma, ele seria tão frequente quanto qualquer outro nesses índices.
Em termos matemáticos: o final 00 –ou qualquer outro– apareceria 1% das vezes nos valores dos índices de fechamento.
Mas o holandês verificou que, ao longo de doze anos, os índices só fecharam em 00 em 0,6% das vezes, valor 40% abaixo do 1% esperado.
Stork também pesquisou a frequência com que os índices atravessavam o patamar 00 entre os fechamentos de dois dias consecutivos.
Novamente encontrou desvio: os índices cruzavam o 00 apenas em 0,8% dos dias, não em 1%. E, quando cruzavam, se afastavam rapidamente desse patamar.
}É possível medir os saltos diários dos índices e ver que eles são maiores perto dos números redondos, afirma Stork.
A tendência à fuga dos zeros variava de acordo com o índice estudado. }Não encontramos esse efeito para a bolsa de Tóquio.
Segundo Stork, se fossem estudados os três últimos algarismos, em vez dos dois, o pavor a números redondos poderia ter sido notado também no Japão.
Isso porque o índice }Nikkei, da Bolsa de Tóquio, tem um algarismo a mais. Ele chega a um número redondo com final 000, e não com final 00.
Outros estudos já notaram efeitos similares nas taxas de câmbio. }Dois belgas fizeram um trabalho com os mesmos resultados sobre as cotações dólar-marco e dólar-iene, diz o holandês.
Ganhar dinheiro
Stork até pensou em ganhar dinheiro com o efeito provocado pelos números redondos, mas logo desistiu.
}Não é possível. Embora você saiba que o índice tem menos probabilidade de passar pelo número redondo, quando ele passa, se afasta dele muito rápido.
Nesse caso, pressões econômicas podem ter mais efeito que psicológicas. }É difícil combinar economia com psicologia, porque é difícil medir emoções.
Mas Stork cita os colapsos periódicos das Bolsas como exemplo de que }quando há mudança, há algo mais em jogo do que meras relações fundamentais.

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