São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Bancos mexicanos emprestam demais

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

Prudência não faz mal a ninguém. Este é o conselho que especialistas estão dando aos banqueiros do México.
Eles alertam que, se o ritmo frenético de empréstimos dos bancos continuar, o sistema financeiro mexicano pode enfrentar problemas como os da Venezuela.
Na Venezuela, o governo foi obrigado a assumir o controle dos bancos, numa operação que vai custar US$ 6 bilhões, no mínimo, aos contribuintes.
Foi uma tentativa de brecar o efeito dominó iniciado pela falência do Banco Latino, o segundo maior do país.
Em janeiro, o Latino declarou-se sem dinheiro para cumprir as obrigações com os correntistas.
A agência norte-americana Moody's, que avalia os riscos para investidores, é uma das que soam o alarme para o caso do México.
O estudo sobre os bancos mexicanos divulgado na semana passada em Nova York constata:
"Como costuma acontecer nos sistemas financeiros que experimentam desregulamentação, privatização e nova e forte concorrência, os banqueiros tendem a ser menos prudentes."
Para a Moody's, os bancos do México partiram para empréstimos arriscados na briga para defender a parcela de negócios que vai ser disputada agora por gigantes internacionais.
O crescimento dos empréstimos feitos ao setor privado desde o início da privatização dos bancos, em 1990, é classificado de alarmante. Supera em muito o que cresceu a economia do país.
Por ora, os bancos mexicanos têm se dado bem. A rentabilidade é alta. Tão alta quanto as chances de aumento obrigatório das reservas para cobrir calotes e de diminuição dos lucros.
"As margens de lucro vão ter que cair", concorda José Luis Gómez Pimienta.
Gómez administra o Mexico Fund, condecorado com um A+, nota máxima de confiabilidade na lista de 2.000 fundos de investimentos elaborada pela revista "Forbes" no final do ano passado.
A mesma "Forbes" avisa em seu guia para o investidor internacional, publicado em junho, que pelo menos 28 bancos estrangeiros aguardam permissão para abrir agências no México.
Pesa contra os bancos mexicanos a "relativa inexperiência" –opinião da Moody's– no trato com o setor privado. A privatização só foi completada em meados de 1992.
Gómez espera mais alianças entre os grandes bancos do México e os grupos internacionais. Isso garante a sobrevivência dos mais fortes. O que vai acontecer com os bancos menores é uma incógnita.
A incerteza se estende ao desempenho da economia em geral, que, no curto prazo, está amarrada ao resultado das eleições (para a Presidência e o Congresso) marcadas para agosto.
É possível que o PRI (Partido Revolucionário Institucional), situacionista desde 1929, tenha finalmente que partilhar o poder com a oposição.
Os investimentos públicos estão estagnados. Investidores internacionais "congelam" planos de investimentos até dezembro, quando assume o novo governo.
As consequências esperadas são queda nas reservas internacionais, aumento no custo do dinheiro e mais desaceleração da economia.

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