São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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"Já fiz as pazes com o país"

DO "USA TODAY"

Quando regressei do Vietnã, em 1970, eu havia me tornado sob muitos aspectos um estranho em meu próprio país. Estava desiludido –não por haver tomado parte no esforço militar americano, mas pela maneira que esse esforço estava sendo conduzido.
Não é preciso ser gênio para desconfiar que algo está errado quando a máquina militar mais poderosa e sofisticada da história sofre um xeque-mate de um inimigo do Terceiro Mundo.
Eu também sentia muita raiva. Raiva por ser rotulado de "perdedor", "matador de crianças" ou "sujeito que se deixou utilizar".
Raiva porque, do mesmo modo como tinha que guardar meu uniforme no armário, era obrigado a esconder minha condição de veterano –ou correr o risco de me transformar em leproso social.
Em alguns momentos eu sucumbi às pressões da sociedade e senti culpa. Mas nunca consegui deixar de ter certeza de que, em última análise, eu fizera a coisa certa.
Com o tempo acabei me livrando daqueles sentimentos incômodos.
Já fiz minhas pazes com o país, mas nunca me esquecerei dele. A maior parte de minha vida foi medida, de algum modo, em relação à época que passei no Vietnã.
Agora tenho uma compreensão maior de um povo e de sua cultura, do sofrimento e da destruição causados pela guerra, e, talvez o melhor de tudo, novos amigos entre os que no passado foram meus inimigos.
Saio daqui um homem mudado. Talvez não profundamente, mas com certeza possuidor de uma maior apreciação do que o Vietnã foi no passado e é hoje. E, mais do que nunca, continuo sentindo grande orgulho por haver lutado aqui.
Algum dia, acho, eu gostaria de voltar para cá mais uma vez.

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