São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Tony Meola é peça decisiva nos planos de Bora Milutinovic

MARIO CESAR CARVALHO
DO ENVIADO A LOS ANGELES

O técnico Bora Milutinovic já chegou a dizer com todas as letras: se tudo correr como espera, a classificação dos EUA ficará nas mãos do goleiro Tony Meola, 25.
A equipe dos EUA joga para empatar no tempo normal e na prorrogação, o que levaria a decisão para os pênaltis.
Pior para Meola, que pode sair do jogo como herói ou vilão. Ele conhece os dois papéis, está mais acostumado com o de herói, mas diz que não dá para falar em goleiro favorito.
"Não existe muita técnica para pegar pênaltis. Exige mais reflexo e muita sorte", afirma.
Exemplo de sorte: em julho de 1991, numa partida contra Honduras que acabara empatada em 0 a 0 nos 90 minutos, Meola agarrou três pênaltis, dois foram chutados fora e um foi convertido em gol. Os EUA venceram por 4 a 3.
Exemplo de azar: em fevereiro último, um amistoso dos Estados Unidos contra a Dinamarca, realizado em Hong Kong, foi para os pênaltis e Meola não pegou nada.
Os EUA perderam de 4 a 2 –a Dinamarca chutou uma na trave.
Contra o Brasil, seu passado aponta para o azar. Há dois anos, Meola não pegou um pênalti cobrado por Raí num amistoso em Fortaleza (CE). O Brasil venceu a partida por 3 a 0.
Meola já se viu no papel de herói e vilão em boa parte por causa de sua irregularidade.
Pode tanto tomar cinco gols numa partida, como aconteceu na goleada de 5 a 1 que os EUA levaram da Tchecoslováquia na Copa de 1990, como ser apontado como um dos responsáveis pelos EUA terem perdido só de 1 a 0 para a Itália na mesma Copa. Três dias separam os dois jogos.
O próprio Meola diz que mudou de 1990 para cá. Na época, tinha 21 anos e era o mais jovem goleiro da Copa. Havia dois anos que estreara na seleção dos EUA e só jogara 18 partidas.
Agora, Tony Meola acumula 88 jogos pela seleção e algumas exibições que o técnico Milutinovic classifica de "espetaculares".
A maior delas, segundo Milutinovic, foi contra a Inglaterra, em junho do ano passado, quando os EUA venceram por 2 a 0.
As estatísticas deste ano confirmam que Meola melhorou.
Em 1994, ele disputou 13 partidas pelos EUA, incluindo as três da primeira fase da Copa. Tomou 12 gols (1,08 gol por jogo).
No ano passado, Meola foi goleiro em 18 partidas e sofreu 24 gols (1,3 por jogo).
Sua irregularidade, porém, persiste nesta Copa. Contra a Colômbia, defendeu um chute do meio-campista Rincón de dentro da pequena área. Após o jogo, o colombiano disse estar assustado com o reflexo de Meola.
Na derrota para a Romênia, deu-se o inverso: Meola sofreu um gol de Petrescu por pura ingenuidade, dessas que só se vê em futebol de várzea.
Meola conta que achava que Petrescu cruzaria para a área, onde o meio-campista Gheorghe Hagi estava livre de marcação.
Petrescu chutou direto no gol e Meola não alcançou a bola, apesar de ter 1,86 m de altura.
O técnico dos EUA vê qualidades em Meola que vão além de ser um bom goleiro. Escolheu-o para capitão do time.
"Bora me escolheu porque acha que quando o jogo fica um pouco desnorteado, e isso acontece com qualquer time, eu posso ajudar a corrigir as falhas", diz.
O goleiro e o líbero Balboa são os que orientam a defesa dos EUA.
Meola já jogou duas temporadas na segunda divisão da Inglaterra, no Brigton e no Watford, mas sua escola foi mesmo nos EUA.
Aqui, jogou em times que ainda não fazem parte do mapa-múndi do futebol, como o Kearny High e o Missouri Athetic Club.
Desde 1992, é contratado exclusivo da seleção dos EUA, onde ganha em média US$ 45 mil por ano.
Meola engorda o orçamento como garoto-propaganda de uma fábrica de luvas para goleiro. Teria recebido US$ 500 mil pelo contrato, cifra que não confirma. (Mario Cesar Carvalho)

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