São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Tese defende que Braga inovou com temas tabus no horário nobre

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO

Gilberto Braga, o autor que, como nenhum outro, expõe na TV o cinismo da elite brasileira contra mudanças sociais. Aquele que segue o modelo do folhetim clássico e ao mesmo tempo o renova e subverte, com anti-heróis e temas tabus até então impensáveis para o horário nobre.
São por essas águas que navega a tese de mestrado "A Televisão de Autor - A Ficção Seriada de Gilberto Braga", do professor Lisandro Nogueira, com defesa marcada para dezembro, sob orientação de Anamaria Fadul, na USP.
Nogueira, na tese ainda em fase final de elaboração, analisa a obra de Gilberto Braga baseando-se principalmente em "O Dono do Mundo", novela exibida pela Rede Globo em 1991.
Braga renova o melodrama com questões que rivalizam com características básicas do gênero, na visão de Nogueira. O anti-herói –como o Felipe (Antônio Fagundes) de "O Dono do Mundo"– vence no final que deveria ser feliz. A polarização rico versus pobres é transformada em cínicos versus autênticos.
"Usando criatividade e procurando se equilibrar dentro da indústria da televisão –sabendo se posicionar na tensão entre criar e respeitar as normas desta indústria–, Braga traduz em suas telenovelas o jogo frenético e angustiante da classe média na tentativa de se posicionar da melhor maneira na complicada mobilidade social brasileira", afirma Nogueira.
Como exemplo de respeito à indústria, Nogueira cita os problemas de audiência enfrentados por "O Dono do Mundo" –creditados ao inusual da trama montada por Braga.
"Ele foi o primeiro, antes de a emissora pedir, a baixar o nível da novela, seguindo a premissa básica da Globo: deter a hegemonia no horário", diz.
Mas Nogueira vê no final de "O Dono do Mundo" o que chama de "a vigança do autor".
"A premissa básica de sua sinopse era: 'O que as elites querem do Brasil?' Mesmo com todos os problemas, Braga respondeu no último capítulo, através do riso e o piscar irônico de Felipe, que os ricos brasileiros não demonstram a menor boa vontade em mudar qualquer estatuto social", declara.
Os temas urbanos (conflitos de ascensão social), éticos (corrupção na elite e nas classes média e baixa) e femininos (relação homem-mulher, concepção de filhos) são os básicos para Braga, na opinião de Lisandro Nogueira.
O autor da tese afirma que a maioria das novelas trabalha com o melodrama clássico, que reforça comportamentos sociais e políticos patrocinados pela família, Estado ou Igreja.
Gilberto Braga possui uma afinidade maior com temas sociais e políticos emergentes do que outros autores, segundo conclusão de Nogueira.

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