São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Doença da fome extrema volta ao Nordeste

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

A pelagra –doença da fome extrema– está voltando à região do agreste pernambucano. A pelagra é conhecida como a "doença dos quatro d": diarréia, dermatite, demência e "death" (morte em inglês).
No mundo, só foram localizados casos entre refugiados de guerra e em algumas regiões paupérrimas da Índia. Só no ano passado, porém, 86 doentes foram confirmados entre 125 moradores de Bezerros, no agreste pernambucano.
A cidade fica a 105 km de Recife e a pesquisa, iniciada em agosto por professores da Universidade Federal de Pernambuco, foi interrompida dois meses depois.
Medicamentos e a distribuição de cestas básicas teriam feito a doença retroceder no início do ano. Moradores da região dizem que agora ela voltou com mais força.
"A fome aumentou nos últimos meses", diz Geraldo Peixoto, coordenador da Associação dos Filhos e Moradores de Bezerros, Afab.
O secretário estadual da Saúde de Pernambuco, Danilo Campos, disse que "não há, no momento, notificação de pelagra no Estado".
Segundo ele, o governo de Pernambuco vem doando 700 toneladas mensais de alimentos para áreas carentes.
Peixoto diz que a Afab e a campanha contra a fome de Betinho continuaram fornecendo alimentos para as famílias, mas que a ajuda cessou com as chuvas.
Segundo ele, as colheitas só virão em um ou dois meses. "Até lá, muitos novos casos surgirão."
Sônia Lucena de Andrade, professora de Nutrição e Saúde Pública da UFP, diz que, quando as vítimas da pelagra –na maioria mulheres e crianças– voltam a se alimentar, as doenças de pele e a diarréia desaparecem, mas a demência pode continuar.
Segundo Sônia, a Universidade Federal de Pernambuco está retomando as pesquisas. Ela acredita que novos casos possam estar surgindo em outras regiões.
Segundo Peixoto, já foram registrados casos em Riacho das Almas, cidade vizinha a Bezerros.
A pelagra é causada por deficiência da niacina, uma vitamina do complexo B. Segundo Sônia, a causa é alimentação pobre. Não foram registrados casos de morte.

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