São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994 |
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Brasil viaja nervoso e dividido
FERNANDO RODRIGUES; JOÃO MÁXIMO; MÁRIO MAGALHÃES
O nervosismo cresceu ontem de manhã. Uma barricada foi erguida na saída do treino, no campo da Universidade Santa Clara. Bancos de madeira e tapumes impediram os jogadores e a comissão técnica de se aproximarem da imprensa. "Hoje não dá", disse o técnico Parreira. Apenas Parreira e seu coordenador técnico, Mário Jorge Lobo Zagalo, falaram rapidamente sobre a equipe. Parreira falou por cinco minutos. Zagalo, 15 minutos. Antes do início dos treinos, Romário reuniu somente os jogadores no centro do campo e conversou, de forma séria, com eles. Alguns jogadores foram até a cerca do estádio. Depois de alguns segundos, eram retirados do local por membros da comissão técnica. O silêncio da seleção tinha como desculpa a pressa para embarcar para Dallas, onde o time enfrentará a equipe da Holanda, no sábado. O vôo é fretado e sai quando a comissão técnica quer. A Folha apurou que o motivo real do isolamento é evitar declarações desencontradas dos jogadores e da comissão técnica. São três os principais focos de tensão dentro da seleção brasileira: 1) Jogadores insatisfeitos: Romário, Raí, Branco, Cafu, Muller, Viola e Ronaldo estão reclamando do time. Cada um por um motivo. Romário não gosta da equipe. Acha que o nível técnico deixa a desejar. Ontem, saiu do treino antes dos outros jogadores e foi direto para o ônibus. O normalmente calmo Raí ficou nervoso quando um jornalista francês lhe perguntou se estaria sendo negociado para o Monaco. "Eu tenho contrato com o Paris St. Germain. É tudo", respondeu Raí secamente do local onde estava no campo. Branco e Cafu disputam a vaga aberta com a suspensão de Leonardo. Os dois se acham em condição de ocupar a posição. Branco é amigo de Parreira. Deve entrar. Cafu sente-se preterido. Muller xingou Parreira depois do jogo contra os Estados Unidos. Quer entrar no time. Com menos poder, Viola e Ronaldo também reclamam. "Pensei que entraria contra a Suécia. Mas o homem (Parreira) não me pôs", disse Ronaldo à Folha. 2) Indecisão de Parreira: O técnico há 33 meses no cargo chegou aos Estados Unidos com um time sem ritmo. Para piorar, perdeu a dupla de zaga (Rocha e Gomes) por causa de contusões. Parreira admite haver falta de criatividade no time. Mas tem medo de dar liberdade para os jogadores. Por isso, hesita em anunciar qual será o meio-campo. O técnico sinalizou semana passada que tiraria Mauro Silva para a entrada de Mazinho. Falava reservadamente, na condição de não ter o nome revelado. Na última hora, acabou tirando Raí. 3) Regime de concentração: Os jogadores e a comissão técnica estão há 43 dias nos EUA. Viviam trancados no hotel Villa Felice. Nas viagens, como a atual para Dallas, a situação piora. Enquanto no Villa Felice em Los Gatos o hotel tinha sido fechado para o Brasil, em Dallas, os jogadores terão que se contentar com algumas alas do edifício. Como estão proibidos de dar entrevistas fora de hora –quem trangride a regra paga US$ 50 de multa–, os atletas ficam a maior parte do tempo nos quartos. Em Detroit, quando foi realizado o jogo contra a Suécia, foi necessária uma reunião de emergência para tratar do assunto. "Faltam apenas três jogos" repetiu ontem Parreira antes do embarque para Dallas. O técnico repete a frase diariamente. Faz parte do que chama "administrar a tensão e a impaciência do grupo". Próximo Texto: Fifa suspende Leonardo por quatro partidas Índice |
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