São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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O velho presidente Cal tinha sangue mineiro

DAVID DREW ZINGG
EM SAN FRANCISCO

O dia 4 de julho esteve repleto de bandas militares e fogos de artifício sobre a baía de San Francisco.
Eu sei que o nacionalismo é um esporte burro de espectadores, mas momentos como este fazem até mesmo o Velho Jornalista Calejado Dave refletir sobre seus dois países, Gringo- e Sambalândia.
Depois comecei a refletir sobre grandes presidentes. Comecei a pensar em:
Bill Clinton e Itamar Franco, e resolvi deixar o assunto inteiro de lado.
Então, de repente, como uma brisa leve na minha nuca, um nome presidencial flutuou diante de minha consciência: Calvin Coolidge.
Não se fazem mais presidentes como o Velho Cal hoje em dia. É difícil lembrar qualquer coisa que ele disse porque nos quatro anos em que ocupou a Casa Branca, ele quase não disse nada.
Calvin Coolidge era natural da Nova Inglaterra, uma região tão fria que seus nativos têm o hábito de manter suas bocas fechadas para impedir que seus dentes congelem.
Muitas vezes eu penso que é uma pena que os invernos de Brasília, no planalto brasileiro, não sejam mais rigorosos.
Um dia Cal, o Silencioso, foi sozinho à igreja. Quando voltou, sua mulher lhe perguntou qual havia sido o tema do sermão.
"O pecado", disse Cal.
Sua mulher então lhe perguntou o que o pastor dissera sobre o tema.
"Ele era contra", disse Cal.
Coolidge odiava dar tapinhas nas costas de correligionários, sapecar beijinhos em bebês e mostrar deferência para com seus eleitores.
Um dia, um vizinho seu o repreendeu quando ele passava na rua, dizendo que não havia votado em Cal.
O presidente continuou andando e respondeu:
"Outros votaram".
O 30º presidente dos Estados Unidos morreu de modo condizente com seu estilo. Ele desabou de um quarto no primeiro andar da casa onde estava. Ninguém o ouviu cair.
Suas últimas palavras foram ditas ao jardineiro.
"Bonito dia", disse ele.
Sempre achei que Cal deve ter tido sangue mineiro de alguma maneira.

Tradução de Clara Allain

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