São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Alerta portenho

A manifestação popular realizada ontem em Buenos Aires –a maior desde 1990– é um bom tema de reflexão para quem se preocupa em especular sobre o futuro do programa de estabilização econômica recém-implantado no Brasil. Com efeito, não são poucas as semelhanças apontadas por economistas entre as estratégias antiinflacionárias do Plano Real brasileiro e do Plano Cavallo introduzido na Argentina em 1991.
Os supostos efeitos recessivos da estabilização à moda platense –achatamento salarial e desemprego–, que estão na raiz do protesto de ontem, são exatamente os que os críticos e adversários do Plano Real prevêem, um tanto sinistramente, para o Brasil. Por aqui, tais problemas, se confirmados, teriam consequências ainda mais desastrosas, se se levar em conta a já grave situação social do país, um dos campeões mundiais de desigualdade e concentração de renda.
Foi certamente pensando nisso que o presidente argentino, Carlos Menem, ao procurar minimizar os problemas de seu país, usou como exemplo negativo o caso brasileiro: "Quantas marchas teriam que fazer no Brasil, onde o salário mínimo é a metade do que ganha um aposentado na Argentina?". Mesmo descontando a retórica diversionista do presidente e o fato de que os preços praticados na Argentina também são bem mais altos que os brasileiros, a frase permanece contundente.
Se não quiserem que se confirme a anedota originada de um slogan publicitário –"A Argentina é o Brasil amanhã"–, o governo e as forças sociopolíticas brasileiras devem combater desde já as eventuais distorções e erros de dosagem na execução do plano de estabilização, evitando que o conflito distributivo atinja níveis ainda mais explosivos.

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