São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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Crianças trocam a Sé pelos Jardins

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os meninos de rua de São Paulo estão abandonando a praça da Sé e migrando para os Jardins, uma das regiões mais nobres da cidade.
Moradores e comerciantes estão assustados com a "invasão". A Polícia Militar recebe atualmente até 30 queixas por dia. São moradores dos Jardins pedindo para que a PM recolha menores da frente de suas casas.
Uma pesquisa feita em outubro do ano passado pelo governo estadual mostra que há mais meninos nas ruas dos Jardins do que na praça da Sé (veja quadro ao lado).
No senso, feito à noite, foram computadas 133 crianças abandonadas nos Jardins e bairros vizinhos (Consolação, Cerqueira César e Itaim-Bibi).
A soma equivale a 14% do total de meninos de rua que os pesquisadores contaram em toda a cidade. Na praça da Sé e arredores, havia 80 meninos (8,9%).
Juarez Alves, 41, assessor técnico da Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social do Estado, confirma a migração dos meninos.
Segundo Alves, as crianças estão sendo forçadas a deixar a Sé.
No ano passado, conta Alves, pelo menos oito meninos desapareceram das redondezas da praça da Sé. Supostamente, foram vítimas de grupos de extermínio.
Além disso, a polícia passou a agir com mais rigor na Sé, para tentar livrar a praça do estigma de "referência nacional" dos meninos de rua.
A ocupação dos Jardins pelos menores foi rápida e mais intensa a partir do ano passado. Até o final da década passada, era muito raro encontrar um menino na região.
"A região dos Jardins é muito propícia para o menor sobreviver", constata o capitão José Everardo da Silva, 44, reponsável pelo policiamento na área.
Para o PM, as principais fontes de sustento das crianças são as casas noturnas, bares, restaurantes, lojas e caixas bancários. Nesses lugares, conseguem dinheiro e alimentos, pedindo esmolas ou "guardando" carros.
Alves, da secretaria da criança, acrescenta uma nova "atividade" dos meninos: o tráfico de drogas.
"O crack está mudando o comportamento dos meninos de rua. Nos Jardins, eles estão vendendo drogas, trabalhando para traficantes", afirma.
Segundo Silva, a droga sai das pensões da rua Frei Caneca. "Os adolescentes são usados como 'mulas' (pessoas que entregam drogas para consumidores)", diz.

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