São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudo diz que queda do juro provoca fuga da poupança

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco receberá estudo, concluído ontem pelo Banco Central, mostrando que uma queda brusca dos juros provocaria fuga de recursos da poupança.
Segundo os dados preparados pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan, mais da metade do dinheiro aplicado em poupança vem de investidores de médio e grande porte.
Esse tipo de poupador é mais sensível a alterações nos rendimentos. Quando as taxas caem, procura investimentos mais atraentes.
Itamar disse anteontem acreditar que o poupador típico seria o de pequeno porte, que não tiraria o dinheiro da poupança para o consumo se houvesse uma queda dos juros.
Os números do Banco Central prevêem um resultado diferente. As estatísticas mostram que o saldo da caderneta de poupança é um verdadeiro mapa da concentração de renda no país.
Basta dizer que os poupadores considerados pequenos –com aplicações de US$ 260 ou menos– representam 78,4% do total de contas de poupança (65 milhões), mas detêm apenas 14,4% do total do dinheiro depositado nas cadernetas (cerca de US$ 22 bilhões, em dezembro).
Os que têm US$ 1,5 mil ou mais aplicado em cadernetas representam apenas 3,7% do total de contas e detêm 53,9% do saldo global da poupança.
TR
O estudo mostra uma participação crescente dos grandes investidores entre os poupadores, desde que a poupança passou a ser corrigida pela TR (Taxa Referencial) em 1991.
A TR incorpora os juros praticados pelo mercado financeiro e torna o rendimento da poupança próximo ou até superior aos das aplicações mais sofisticadas.
Segundo a área técnica do Banco Central, a entrada de grandes investidores na poupança se acentuou do mês de junho para cá, durante o período de transição para o real.
Somente nos primeiros quatro dias deste mês, por exemplo, US$ 1,034 bilhão ingressou na poupança.
A avaliação é que números dessa magnitude não poderiam ser gerados por pequenos poupadores.
A caderneta de poupança é considerada, pela equipe econômica, a aplicação financeira que deve ter tratamento mais cuidadoso para o sucesso do Plano Real.
O temor é que se repita o Plano Cruzado (1986), quando 20% do dinheiro aplicado em poupança foi sacado e direcionado ao consumo, provocando pressões sobre os preços.
A saída de recursos da poupança também afeta o SFH (Sistema Financeiro da Habitação). Hoje, 70% do dinheiro das cadernetas é direcionado aos financiamentos da casa própria.

Texto Anterior: Acordo deixa preço do café estável por 90 dias
Próximo Texto: Falta de troco provoca filas em caixas de supermercados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.