São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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AVEDON EM EVIDÊNCIA

GUTO BARRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NY

Aos 71 anos, Richard Avedon é o mais importante fotógrafo norte americano em atividade. Acaba de encerrar em Nova York a exposição "Evidence 1944-1994", que comemora e passa em retrospectiva seus 50 anos de carreira. O nome da mostra é um jogo de sonoridades com pronúncia de Avedon (évedon) e a palavra "evidence" (évidence, evidência, em inglês). Foi o que explicou o próprio fotógrafo na entrevista exclusiva à Folha.
Durante o encontro, Avedon mostrou também em primeira mão as provas de seu primeiro calendário, com fotos das principais top models internacionais.

Folha - Depois de tantos anos de carreira, o que mudou na sua visão em termos de fotografia?
Richard Avedon - A medida que os anos passam, você muda de uma maneira geral a sua visão de vida. Quando eu era jovem eu gostava de garotinhas. Porque eu era novo. Agora, eu as acho entediantes e me interesso por mulheres maduras, com uma experiência a mais a oferecer.
O mesmo acontece na fotografia artística, o seu interesse vai mudando. Se você analisar a minha exposição, vai notar que em cada década eu tinha um interesse diferente. No início eu gostava de fotografar artistas e performers. Depois, as pessoas que dirigiam os performes e depois as pessoas que escreviam para os performers. Mais tarde, voltei aos artistas como pessoas, desconectadas do aspecto artístico. Você vai mudando. A única coisa que você tem que fazer é confiar absolutamente no seu interesse naquele momento, para crescer automaticamente. E também, quando você fotografa todos os dias de sua vida, é como fazer flexões todos os dias, você vai se desenvolvendo. A mesma coisa que ocorre com qualquer músculo, acontece também com a mente.
Folha - Qual o sr. considera sua fase mais importante em termos de política e cultura?
Avedon - Foi no meio dos anos 60. Eu trabalhava muito, passei dois anos fazendo portraits. Na época da guerra do Vietnã, eu fotografei em Chicago ativistas que eram radicalmente contra a guerra e montei cabines escuras, com as gravações e fotos dessas pessoas. que eram a favor da guerra. Quando eu voltei, percebi que tinha fotos de pessoas contra e a favor da guerra e também fotos da revolução sexual. Queria partir então para a classe média. Comecei a misturar os assuntos e fotografar a Geração Beat, como Allen Ginsberg e o pai dele, que era um grande poeta. A maioria dessas fotos nunca haviam sido publicadas até um ano atrás. Acho que fiz uma grande análise do que era a vida americana nos anos 60. Essa é a primeira vez que todas as fotos estão juntas no mesmo espaço.
Folha - Como o sr. desenvolveu a idéia de trabalhar com o olhar das pessoas em suas fotos?
Avedon - A maior obsessão da minha vida é com as pessoas. Essa é minha principal preocupação na vida. Eu gosto de conversar com uma pessoa de cada vez, sentar e ter uma longa conversa.
Quando faço retratos, é a mesma coisa, gosto de estar olhando para os olhos da pessoa. Se eu não consigo ver seu olhos, não consigo saber o que você está pensando.
Quando estou fotografando, a pessoa tem que olhar para dentro da lente, e não para mim. Ela tem que imaginar que ela tem uma platéia, e é isso que me fascina.

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Sobre Richard Avedon à página 5-4

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