São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Jogando no ataque

JRC
DA REDAÇÃO

O governo está fazendo um jogo pesado para derrubar rapidamente a inflação em agosto. Partiu para o ataque com uma surpreendente "midivalorização" do real, metas prudentes para a expansão da nova moeda na economia e juros altos.
"A parte três do plano é inteiramente ortodoxa", afirmou certa vez um de seus principais autores, Pérsio Arida. O que quer dizer que se montou um enorme cerco para evitar emissão de moeda –foco inflacionário clássico na conservadora teoria monetarista.
Aplicar um deságio no dólar foi uma das saídas mais criativas para estreitar as portas de entrada de capital estrangeiro, que vem inundando o país desde o final de 1991 em busca dos maiores juros do mundo.
Ao frear o ingresso descontrolado de moeda estrangeira, faltava controlar e dirigir o fluxo de reais. Foram fixadas metas monetárias –US$ 7,5 bilhões até 1º de outubro– cerca do triplo dos cruzeiros reais em circulação.
Metas folgadas ou apertadas? Na dúvida, o Banco Central considerou o pior cenário e fixou regras que lhe garantem as rédeas da situação. Todo novo dinheiro dos depósitos à vista volta ao BC na forma de compulsório. As aplicações a prazo e a poupança também ganharam seu compulsório.
Houve sensibilidade para deixar livres as saídas de emergência. Se a economia se estrangular por falta de dinheiro, emite-se 20% a mais (está na MP), afrouxa-se os compulsórios sobre os bancos, reduz-se os juros. Ao estabelecer rígidos limites, o governo disse, também, que eles são provisórios.
Há problemas sérios pela frente. O governo está criando defasagem cambial por vontade própria, dando como compensação aos exportadores uma puxada no juros. Uma solução com vida obviamente curta.
Os primeiros grandes dissídios salariais, com repasse integral da inflação em real, vêm em setembro, a mesma data do aumento do salário mínimo. As pressões pela reindexação da economia devem crescer.
O horizonte do Plano Real, porém, é calculadamente curto –o calendário eleitoral. A vitória inicial tem de ser conseguida até agosto, quando se precisará de uma taxa de inflação menor que a de julho. Depois, mantê-la baixa em setembro e outubro e esperar as urnas serem abertas. (JRC)

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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