São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Presidente da Coréia do Norte morre aos 82

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Kim Il-sung, presidente da Coréia do Norte desde a fundação do país, em 1948, morreu na madrugada de sexta-feira aos 82 anos em Pyongyang, capital do país.
Sua morte encerra a mais duradoura ditadura de um líder comunista e lança dúvidas sobre perspectivas de relaxamento das tensões com Coréia do Sul e EUA.
As Forças Armadas norte-coreanas foram colocadas em alerta, assim como as da Coréia do Sul e do Japão e os cerca de 70 mil soldados americanos nestes dois países. Não houve, porém, incidentes.
O anúncio oficial da morte foi feito ao meio-dia de ontem (meia-noite de sexta-feira em Brasília) pela Rádio Pyongyang.
A agência oficial norte-coreana "KCNA" disse que Kim sofreu um infarto do miocárdio na quinta-feira e morreu às 2h de anteontem (14h de quinta-feira em Brasília). A causa da morte teria sido confirmada ontem por autópsia.
"Apesar de o coração do 'Grande Líder', camarada Kim Il-sung, ter parado de bater, o augusto nome e a imagem terna do dirigente paternal permanecerá sempre nos corações do nosso povo e suas grandes realizações revoluciomárias brilharão para sempre ao longo da história", disse a KCNA.
Em Seul, observadores questionaram a veracidade das informações. Kim Chang-soon, presidente do Instituto de Estudos Norte-Coreanos, disse que "não é comum que a morte do chefe de Estado de um país comunista seja anunciada tão rapidamente. Também é estranho que a autópsia tenha sido feita tão cedo, em alguém que era visto quase como um deus".
Em Nápoles (Itália), porém, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Anthony Lake, disse que "os informes norte-coreanos são de que Kim morreu de ataque cardíaco e nós não temos evidências de que não seja este o caso".
Para os norte-coreanos, a morte do homem que chamam de "Grande Líder" foi um choque. Milhares de pessoas em lágrimas fizeram filas ontem para levar flores à estátua de Kim Il-sung (de 22 metros de altura) no centro de Pyongyang.
O corpo ficará exposto às condolências públicas por nove dias. O enterro será no dia 17 sem a presença de delegações estrangeiras.
Segundo sua biografia oficial –tida por muitos como fantasiosa em vários aspectos–, Kim Il-sung nasceu de pais camponeses em Mangyongdae, perto de Pyongyang, com o nome de Kim Song-chu, em 15 de abril de 1912. Aos 13 anos, diz a versão oficial, ele já liderava um dos grupos guerrilheiros que combatiam os japoneses a partir da Manchúria.
Nos anos 30 ele teria passado a maior parte do tempo na URSS, completando sua formação política. Quando o Japão se rendeu ao fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, Kim era capitão do Exército soviético.
Naquela ocasião a península coreana foi ocupada por tropas da URSS ao norte e dos EUA ao sul, com a divisa na altura do paralelo de 38º de latitude norte.
A retirada das tropas soviéticas, em setembro de 1948, precipitou a fundação da República Popular Democrática da Coréia no norte, com Kim Il-sung como presidente, e da República da Coréia no sul.
Em 1950, tropas norte-coreanas invadiram o sul e chegaram quase a dominar toda a península antes de serem repelidas por forças de 16 países lideradas pelos EUA.
Os norte-coreanos receberam apoio militar da URSS e da China. A guerra durou três anos e terminou num armistício que fixou a fronteira mais ou menos na altura anterior ao conflito.
A economia norte-coreana avançou mais rapidamente do que a do sul nos anos 50 e 60. O crescente isolamento do país, porém, coincidiu com o desenvolvimento acelerado da Coréia do Sul.
A abertura da China ao mundo ocidental e o desmoronamento da URSS acentuaram o isolamento. Nos últimos anos, somente o controle absoluto de Kim Il-sung sobre todos os aspectos da vida do país manteve a unidade do regime.

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