São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Na corda bamba

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Esteve em São Paulo o diretor-geral do Gatt que, dentro em breve, será transformado na OMC –Organização Mundial do Comércio. O dr. Peter Sutherland, um advogado irlandês de grande conhecimento dos negócios internacionais, mostrou-se deslumbrado com a enorme abundância de recursos naturais deste país e preocupado com o nosso crescimento populacional.
O Brasil cresce uma Irlanda por ano, sua terra natal, que tem uma população estável de 3 milhões de habitantes.
Para muitos, o trabalho do Gatt (e da futura OMC) é coisa que interessa apenas a importadores e exportadores –os chamados "homens de negócios".
Nada mais errado. Nesta hora em que a economia se globaliza, as tecnologias voam, os empregos se reduzem e os ambientalistas dificultam a produção, o papel daquele organismo é fundamental para a ordem social pois um mero favorecimento fiscal ou tarifário em determinado país pode acabar com muitas empresas em outras nações, destruindo empregos, eliminando salários e agravando a pobreza.
Portanto, as decisões do Gatt interessam a todos porque têm graves consequências sociais.
O dr. Sutherland nos trouxe duas notícias. Uma boa outra ruim. A boa é que a chamada Rodada do Uruguai –que deu origem à criação da OMC– fez grandes avanços no aprimoramento de regras que diminuem o protecionismo de uns em detrimento de outros. A notícia é que isso ainda não foi completamente estabelecido. A OMC precisa ser ratificada por 122 países sendo que a maioria está à espera da conduta dos Estados Unidos que, por sua vez, vêm adiando aquela importante decisão.
Ou seja, a remoção dos atuais mecanismos de proteção será um processo lento o que tem importantes implicações para o Brasil. Estima-se que as nossas exportações são responsáveis por quase 20% dos postos de trabalho, diretos e indiretos. Isso dá uns 13 milhões de empregos que geram salários que cobrem cerca de 40 milhões de pessoas.
A mencionada lentidão significa que, por vários anos, o Brasil terá de continuar a enfrentar situações desvantajosas no comércio internacional como, por exemplo, a criada pela maioria dos países da Europa que dá cerca de US$ 150 bilhões por ano à sua agricultura a título de subsídio, estabelecendo uma concorrência desleal com nossos produtores rurais que não têm nada semelhante e, por cima, pagam impostos até mesmo para exportar. Isso pode agravar nosso quadro de emprego.
Em face dessa realidade, o Brasil tem duas tarefas importantes pela frente. Primeiro: precisamos lutar junto ao novo organismo para apressar o "desprotecionismo" nos países mais avançados. Segundo: temos de promover ainda mais as exportações brasileiras e elevar a eficiência dos nossos processos produtivos o que, por sua vez, depende de melhor educação, menos impostos, juros baixos e encargos flexíveis. Disto tudo, o mais demorado é educar. Temos de pular fora dessa corda bamba e começar imediatamente uma ampla cruzada educacional que, aliás, está bastante atrasada.

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