São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Medição da camada de ozônio pode ter erro

FRED PEARCE
DA "NEW SCIENTIST"

Várias das medições feitas da diminuição na camada de ozônio podem estar erradas.
O que se pensa que é diminuição de ozônio pode ser, na verdade, diminuição do gás poluente.
O geofísico Fred Singer, que trabalha na Universidade da Virgínia, disse numa reunião em Londres, há duas semanas, que "é possível que o que estamos testemunhando seja uma redução na quantidade de dióxido sulfúrico no ar, não do ozônio".
O dióxido sulfúrico e o ozônio absorvem a luz em frequências semelhantes. De acordo com Singer, o medidor Dobson, aparelho que mede concentrações de gases, não consegue distinguir facilmente entre os dois.
Esta confusão sobre os gases pode estar ocultando o que realmente está acontecendo sobre a Europa e a América do Norte.
A afirmação de Singer segue um estudo belga feito dois anos atrás, que concluiu que uma perda aparente de ozônio sobre Bruxelas se devia em grande medida ao aperfeiçoamento dos controles de emissões de dióxido sulfúrico de usinas elétricas.
Segundo Joe Farman, da Pesquisa Antártica Britânica, o homem que descobriu o buraco de ozônio sobre a Antártida no início dos anos 80, o "que Singer afirma é muito possível, mas não é muito importante".
Para ele, "existe incerteza sobre o quanto a camada geral de ozônio diminuiu. Mas é (...) o ozônio muito baixo sobre a Antártida e o Ártico que realmente importam. E o dióxido sulfúrico não os explica".
Singer, cujo ceticismo em relação a questões ambientais se estende ao aquecimento global e às teorias de inverno nuclear, também é diretor do Projeto de Política Científica e Ambiental, um grupo de reflexão científica em Washington, D.C. Ele e Farman discutiram a camada de ozônio na Sociedade de Indústria Química.
Singer concordou que substâncias químicas produzidas pelo homem, como os CFCs, destroem o ozônio presente na estratosfera. Mas afirmou que as fontes de cloro natural e produzido pelo homem são igualmente responsáveis pela redução de ozônio.
Singer sugeriu que o fato do número de grandes erupções vulcânicas haver dobrado nos últimos 20 anos pode haver causado o aumento do cloro presente na estratosfera, o que explicaria em parte a formação dos buracos de ozônio. Mas as concentrações de ozônio seguem uma variação natural ligada ao ciclo de 11 anos das manchas solares, disse ele, e ainda é cedo para que se possa distinguir este efeito de outros fatores que afetam o ozônio.
Farman rechaçou esta explicação. "Na realidade, hoje temos uma idéia muito clara do 'orçamento' do cloro", disse ele. "E não existem evidências diretas de que qualquer vulcão jamais expeliu cloro para a estratosfera num lugar onde afetaria o ozônio".
Farman acusou Singer de tratar seus dados com "extrema seletividade". "Não se pode fugir dos fatos relativos aos buracos de ozônio", disse ele. "E sabemos que a maior parte dos danos está sendo causada pelos CFCs".

Tradução de Clara Allain

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