São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Economia brasileira vai pela terceira via

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A economia brasileira já está preparada para o ano 2.000. Vai chegar lá por uma via própria, esquisita e tortuosa, que não cabe nos esquemas retóricos, e trilhará esse caminho seja qual for o próximo presidente da República.
No momento, as atenções estão no embate entre FHC e Lula e, por bem ou por mal, fica mais fácil encaixar tudo numa polarização absoluta.
Nesse caso, talvez seja útil recorrer ao velho determinismo econômico e perceber que a economia brasileira tem tudo para, nos próximos seis anos, retomar o desenvolvimento.
A miséria brasileira é chocante e crescente. Entretanto, é importante lembrar que nossa economia está entre as dez maiores do planeta e que problemas que travaram o crescimento nos últimos anos estão superados ou próximos disso.
Em primeiro lugar, a dívida externa. Até mesmo Lula já declarou que respeita o acordo firmado e que só pára de pagar se ficar sem caixa, algo improvável –o Banco Central dispõe de US$ 40 bilhões.
No final dos anos 80, quando caiu o muro de Berlim, dizia-se que faltaria poupança para financiar os investimentos em todo o mundo. A reconstrução do Leste europeu, dizia-se, absorveria todos os capitais. A América Latina foi pintada como bonde perdido.
Essas previsões foram furadas. Logo se percebeu que a transição nas economias do antigo bloco socialista seria lento e difícil.
Economias industrializadas, com mercados e bases produtivas mais maduras, como a brasileira, voltaram a interessar investidores. Poderemos voltar a ser um pólo sedutor de capitais externos.
Mas o caminho não será pavimentado só por capitais externos. As empresas brasileiras passaram por reestruturação, racionalização, aumento de produtividade e conquista de mercados externos. Seu endividamento é baixíssimo.
Com a queda da inflação, os bancos estarão sedentos por novas parcerias, coisa que já vem ocorrendo mesmo com alta inflação.
Fala-se do gigantismo estatal brasileiro. Mas no exame das pré-condições para a retomada do crescimento, isso que seria ônus pode virar vantagem. E há muito de retórica: os gastos do governo brasileiro são menores que nos EUA, França, Itália ou Japão.
Um dos poucos a alertar para a superação de problemas e redesenho do desenvolvimento tem sido Stephen Kanitz, professor da USP.
Atento às novas oportunidades de financiamento, Kanitz tem chamado a atenção para o pânico dos fundos de pensão dos EUA, com trilhões para investir e capazes de perceber que projetos no Brasil podem render bem mais que os 6% de que esses fundos precisam para equilibrar-se contabilmente.
Por enquanto, Lula não pode dizer que afinal de contas boa parte do trabalho sujo de ajuste já está sendo feito. E FHC não pode reconhecer que a possibilidade de sucesso na estabilização não se deve apenas ao seu choque contra a indexação.
Seja quem for o eleito, as chances de chegarmos me melhor estado ao ano 2.000 são significativas e não exigem nenhuma revolução, de esquerda ou de direita.

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