São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994 |
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Igreja tenta 'recomeçar'
MARCELO MUSA CAVALLARI
O grande projeto do papa João Paulo 2º para o próximo milênio é a catequização, a conquista de fiéis através da pregação. Desta vez, não se trata de infiéis muçulmanos –como nos tempos das cruzadas. Também não são os indígenas americanos ou africanos –na época dos descobrimentos e do neocolonialismo– que precisam ser conquistados. Os alvos da nova evangelização são os descendentes dos promotores das antigas: os ex-cristãos. O mundo descristianizado –fenômeno mais agudo nos países ricos mas igualmente presente em países de maioria católica como o Brasil ou as Filipinas– é o principal desafio. O ano 2000, que o papa gosta de usar como marco, é para a Igreja uma data, digamos, administrativa. O ano 2000, assim como qualquer outro ano, não tem nenhum significado especial para o catolicismo. O papa propôs numa reunião com cardeais em abril algumas festividades que marcariam a passagem do milênio. Alguns cardeais criticaram a decisão do papa de festejar de alguma forma a virada do ano 2000. Eles alegam que adeptos da New Age e esotéricos em geral farão bastante barulho no final de 2000 e isso pode gerar uma incômoda proximidade. Esotéricos, new-ages, ateus, indiferentes e todos os que professam alguma variação do pensamento moderno ou pós-moderno, afinal, são aqueles a quem a Igreja do próximo século quer se dirigir como mestra, não colega. No final do primeiro milênio, a Igreja teve que combater um número razoável de comunidades cristãs que viam a data como a da segunda vinda de Cristo, que marcará para o cristianismo o fim do mundo. A vaga espiritualidade de massa que grassa hoje em dia é a herdeira dessas pretensões divinatórias e vê a data como o início de uma nova era para a humanidade. Mais realista, a Igreja apenas se prepara para continuar sendo a mesma. Texto Anterior: Para milenaristas, história se repete em ciclos Próximo Texto: Entrada no 2º milênio criou pânico na Europa Índice |
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