São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Mulher apaixonada corre maior risco, afirma médico

DA REDAÇÃO

Numa relação vaginal tradicional, os homens têm menos chances de contrair o HIV do que as mulheres. A afirmação é do médico infectologista David Uip, 42, que estará amanhã na Folha para falar sobre "Novos métodos de atendimento a portadores de HIV" (leia texto ao lado).
Em entrevista à Folha, Uip disse que as mulheres não podem confiar nos homens. "A mulher entra numa relação extraconjugal quando está apaixonada e uma mulher apaixonada não imagina estar correndo risco de nada."
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40 milhões de pessoas em todo o mundo vão estar contaminadas pelo vírus HIV até o ano 2000. A seguir, trechos da entrevista com David Uip.
Folha - É verdade que os homens têm menos chances de se infectar com o HIV numa relação vaginal tradicional?
David Uip - O risco é menor, mas existe. Os trabalhos são variados. Alguns falam em riscos 15 vezes menores, outros em seis vezes. Isso quer dizer, cientificamente, que o risco é menor. Esse dado só vale para relações vaginais e levando-se em consideração o seguinte quadro: homem e mulher sem escoriações.
Folha -Isso quer dizer, então, que o homem estaria mais liberado que a mulher?
Uip - Não. Em hipótese nenhuma estou liberando os homens. Sempre advoguei o sexo seguro. Para mim, risco zero significa parceiros negativos e fiéis. E quando não forem, que usem preservativo. As organizações não-governamentais contestam essas informações. Acham que quando eu digo que as chances de uma mulher infectada passar o HIV para um homem sadio são menores, estou tendo uma atitude preconceituosa. Digo que que estatisticamente as chances são menores. Não vai aí nenhum preconceito de minha parte.
Folha - Quais são as chances de uma mulher sadia contrair o HIV de um homem infectado?
Uip - As chances variam de 30% a 50%. O homem corre menos risco porque a mulher lubrifica naturalmente a região vaginal, facilitando a introdução do pênis e evitando escoriações. Só isso diminui as chances de o homem contrair o vírus da mulher. O pênis também funciona como uma barreira.
Folha - O senhor aconselha as pessoas fazerem o teste para o diagnóstico de HIV?
Uip - Acho que o teste deve ser sempre prescrito e analisado pelo médico.
Folha - O senhor já disse que o homem tem menos chance de se contaminar numa relação tradicional. Como o senhor explicaria o maior contigente de infectados ser formado por homens.
Uip - São homossexuais, bissexuais e usuários de drogas. Estou dizendo há anos que o número de mulheres infectadas iria aumentar de uma forma assustadora. Quando comecei a falar dessa desgraça, estávamos vivendo com 30 homens para cada mulher. Hoje, estamos falando de quatro homens para cada mulher. A mulher também se droga, tem relações com homens contaminados e relações com bissexuais.
Folha - Que recomendação o senhor daria às mulheres?
Uip - A mulher tem que exigir proteção. O que estou dizendo há anos é que a mulher não pode confiar no homem. Se ela for ter uma relação extraconjugal, essa mulher tem que tomar todos os cuidados. Não pode de maneira alguma confiar no homem. O problema é que a mulher que tem uma relação extraconjugal, em geral, está apaixonada. E uma mulher apaixonada não imagina estar correndo risco de nada.

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