São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Cytotec tem 'mercado negro' em São Paulo

ALESSANDRA BLANCO E JAIRO BOUER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um verdadeiro "mercado negro" se organizou para a venda clandestina do Cytotec em vários pontos do país.
Caixas que contêm 28 comprimidos são abertas e fracionadas em sete "doses" abortivas, com quatro comprimidos cada. Os preços são altos.
Sem grande dificuldade, a reportagem da Folha conseguiu comprar uma dessas "doses" em uma farmácia da rua Voluntários da Pátria, em Santana (zona norte de São Paulo), no dia 17 de junho.
Nas duas primeiras farmácias em que o medicamento foi procurado, a informação era de que a venda só era permitida com a apresentação de uma receita médica.
Um dos farmacêuticos afirmou que, como o Cytotec só pode ser vendido com receita, mantê-lo no estoque gera prejuízo.
Na terceira farmácia, um dos atendentes garantiu que poderia "arrumar" quatro comprimidos algumas horas mais tarde. "Tem um rapaz que passa aqui de vez em quando e traz o remédio para mim", disse.
Diante da insistência da repórter, o atendente chamou um outro rapaz de aproximadamente 20 anos na parte interna da farmácia.
O rapaz, que se identificou como Marcelo, informou que arrumaria o remédio por CR$ 120.000,00 (valor equivalente hoje a R$ 52).
Após pegar o cheque, ele entregou quatro comprimidos de Cytotec, dentro de um pacote, na sala interna da farmácia.
Marcelo explicou que dois comprimidos deveriam ser tomados por via oral e os outros dois introduzidos na vagina.
"Você vai ter muito sangramento e muita cólica, mas não tome nenhum outro remédio porque pode cortar o efeito. Se tiver algum problema mais grave, venha até aqui que a gente dá um jeito."
(Alessandra Blanco)

Colaborou Jairo Bouer, especial para a Folha.

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