São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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"Imigrantes da Copa" assustam EUA

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Serviço de Imigração dos Estados Unidos acredita que muitos dos brasileiros que entraram no país para assistir a Copa do Mundo pretendem permanecer no país como imigrantes ilegais.
"Muitos torcedores brasileiros e de outros países estão sendo considerados imigrantes em potencial", diz Charles Troy, diretor do Serviço Nacional de Imigração em Nova York, onde estão concentrados cerca de 80 mil brasileiros dos mais de 300 mil que vivem nos EUA.
"Estamos atentos a esse problema e preparados para identificar e deportar quem violar os termos dos vistos concedidos para a entrada no país", diz Troy.
Estima-se que pelo menos 20 mil brasileiros tenham entrado nos EUA em junho com o propósito inicial de ver os jogos da Copa.
A maioria viajou para San Francisco, mas o Serviço de Imigração sabe que os "imigrantes da Copa", como estão sendo chamados, devem deslocar-se para o Estados de Nova York e Massachusetts, onde a maioria dos brasileiros está concentrada. Só em Massachusetts existem cerca de 120 mil brasileiros.
Giani Agostinelli, diretor do Centro para Estudos da Imigração em Nova York, afirma que a Copa é o "cenário ideal" para estimular os imigrantes que pretendiam entrar nos EUA e tinham medo de não conseguir os vistos.
Legalização
Escritórios de advocacia especializados em regularizar a situação de imigrantes ilegais em Nova York já estão se preparando para receber os "imigrantes da Copa".
"Nos dois a três meses seguintes à Copa devem aparecer dezenas de novos casos de imigrantes querendo regularizar a situação de seus vistos", diz Moisés Apsan, presidente da Ordem dos Advogados de Nova Jersey.
Apsan trabalha há 11 anos quase que exclusivamente com casos de brasileiros que entram como turistas nos EUA e conseguem um meio de obter vistos de permanência com prazos maiores. Nos últimos anos, diz, regularizou a sitação de pelo menos 4.000 brasileiros.
Segundo Apsan, outros eventos, como as Olimpíadas de Los Angeles em 1984, já haviam se revelado como "a porta de entrada" para muitos brasileiros e pessoas de outras nacionalidades com intenção de imigrar para os Estados Unidos.
Agostinelli, do Centro para Estudos da Imigração, afirma que os torcedores da Copa encaixam-se no perfil dos brasilerios que já imigraram.
"Ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos imigrantes brasileiros vem com dinheiro e contatos para ficar nos EUA algum tempo antes de começar a trabalhar. Eles não são fugitivos desesperados, mas pessoas com condições que buscam outra qualidade de vida", diz Agostinelli. A maioria, afirma, já terminou o 2º grau escolar ou até mesmo uma universidade.
Mais de 52% dos brasileiros que imigram, segundo o Centro para Estudos da Imigração, já têm amigos nos EUA com quem acabam ficando assim que chegam ao país. Em 25% dos casos, os imigrantes chegam com a intenção de nunca mais retornar ao Brasil.
O emprego é outro ponto que mostra a agilidade e contatos da comunidade brasileira nos EUA. Em média, 65% dos brasileiros que imigram para os EUA conseguem um emprego em menos de 20 dias.
Inicialmente, a maioria procura ocupações na mesma área de trabalho em que atuava no Brasil –principalmente pelo fato de essa ser uma das formas mais fáceis de conseguir um visto de permanência.
Mas a grande maioria, após as primeiras tentativas, acaba caindo na vala comum do subemprego e ganhando salários –em 55% dos casos– entre US$ 1.000 e US$ 2.000.
Nesse caso, acabam permanecendo em condições irregulares no país e juntando-se aos quase 70% de imigrantes ilegais brasileiros nos EUA.
Menos de 4% do total que chega aos EUA com a intenção de imigrar consegue um rendimento superior a US$ 3.000. Geralmente, encaixam-se nesses casos os brasileiros legais que conseguem empregos relacionados à área de trabalho no Brasil.
Premeditação
A brasilianista Maxine Margolis, autora do livro "Little Brazil" ("Pequeno Brasil"), que conta a vida dos imigrantes brasileiros em Nova York, acredita que muitos dos "imigrantes da Copa" já vinham planejando suas estratégias de imigração há meses. "A Copa era a chance de ouro para muitos", diz Maxine.

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