São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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O preço real do leite

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES
O mercado do leite é um dos mais complicados na passagem do cruzeiro real para real. Isto por duas razões: o leite é produzido e vendido ao laticínio diariamente, mas o pagamento ao produtor é realizado por quinzena ou por mês e os prazos de pagamento do varejista ao laticínio e do laticínio ao produtor são diferentes.
Estas razões, em períodos de inflação elevada, têm duas consequências: existe um preço ao produtor no dia da entrega do leite ao laticínio e outro no dia do pagamento e, como uma fonte de suas receitas, a usina laticinista fazia aplicações financeiras no período correspondente a diferença nos prazos de pagamentos.
O mercado criou mecanismos de convivência com inflação elevada, os quais estão, agora, dificultando a implantação da nova moeda.
Após a saída do governo do tabelamento do preço do leite, no final de 91, as forças de mercado começaram a agir na definição do preço. O mercado de São Paulo tem o maior preço do país, pago ao produtor. Minas Gerais, maior Estado produtor de leite, tem um preço intermediário e, os Estados das regiões Centro Oeste e Nordeste têm o menor preço.
A liderança de preço de São Paulo é conseguida pela maior mobilização dos produtores e pelo maior poder aquisitivo da população, além de ser um grande consumidor de leite.
Após a liberação, o preço passou a ser orientado através de negociações entre representantes dos produtores e dos laticínios. Em São Paulo, as negociações em 93 conduziram a uma relação média de 55,86% entre os preços ao produtor e ao consumidor para o leite tipo C.
Entre setembro e dezembro de 93, em São Paulo, o preço médio do leite C foi de 0,52 URV (ao consumidor), 0,29 URV (ao produtor no dia da entrega) e 0,23 URV (preço ao produtor no dia do pagamento).
Assim, a relação entre o preço ao consumidor e ao produtor, no dia da entrega, foi de 55,86%. Baseados nestes números, os produtores querem receber R$ 0,29, mesmo porque o consumidor continua pagando R$ 0,52 pelo litro de leite tipo C. Por outro lado, os industriais argumentam ser inviável pagar este preço e oferecem de R$ 0,18 a R$ 0,20 por litro. A diferença é grande e o governo já foi sondado para participar da negociação.
As experiências de outras negociações desta natureza indicam que ambos os lados devem ceder para se chegar ao preço de equilíbrio e fugir do fantasma do tabelamento.
Diante do impasse, uma idéia consiste em se ter um preço-base acrescido de bonificações de acordo com a cota de produção, quantidade e qualidade do leite. Avançando um pouco mais, pode-se tomar como regra do preço-base a planilha de custo de produção de leite da Embrapa, que é baseada em um sistema de reconhecida eficiência técnica e econômica.
O custo médio desta planilha, entre setembro e dezembro de 93, foi 0,23 URV que, por coincidência, foi também o preço ao produtor de leite C no dia do pagamento.
Finalmente dois lembretes: a implantação deste sistema representa forte incentivo à modernização da pecuária leiteira e deve-se ter flexibilidade na sua aplicação para permitir a passagem dos sinais de mercado.

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES é professor da Universidade Federal de Viçosa e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

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