São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994 |
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Juros começam a pressionar para cima os preços
CLÓVIS ROSSI
À advertência teórica seguiu-se uma constatação prática, feita ontem pelo "xerife" dos preços do Ministério da Fazenda, Milton Dallari. Dallari detectou a primeira tentativa de um setor da economia de transferir para os preços o custo financeiro. Os produtores de açúcar, que trabalhavam com juros de 3% ao mês, preparavam-se para se adaptar aos 7% ou 8% do mercado e, por extensão, aumentar seus preços. Dallari pediu à Coopersucar, a cooperativa dos produtores, que não o fizesse, mas só hoje vai saber se foi ou não atendido. Terça-feira é o dia da reunião de diretoria, a instância que pode decidir. Não é o único problema à mesa de Dallari. Informado pela Folha que a cesta básica do Procon tivera ontem uma alta de 0,9% sobre o preço total de sexta-feira passada, Dallari atribuiu-a, imediatamente, a um eventual efeito das geadas sobre os hortifrutigranjeiros. "Fora isso, não há qualquer justificativa para o aumento", antecipou-se Dallari. Não foi a geada, no entanto, a responsável pela alta. Os produtos de higiene e limpeza, obviamente não sujeitos ao clima, é que subiram mais (1,94%). O "xerife" faz a enésima promessa de endurecer na negociação com o empresariado. "Agora, não dá mais para perder muito tempo só com conversa. A ordem é encaminhar os casos para o Ministério da Justiça, para eventual aplicação da lei antitruste", disse Dallari ontem à Folha. Além da questão mais urgente dos preços, Ricupero quis saber a opinião dos consultores a respeito de quatro outras questões, a saber: 1 - Juros - Ricupero foi alertado para as dificuldades das empresas em manter preços estáveis e ao mesmo tempo arcar com juros de 7% a 8% ao mês. Mas seus interlocutores concordaram em que, no início de um plano de estabilização, "é sempre melhor errar por excesso do que por falta", disse Luiz Paulo Rosemberg. 2 - Câmbio - O ministro também foi avisado de que a relação cambial de pouco mais de R$ 0,90 por dólar não pode se manter por mais de 60 dias. Mas os consultores admitem que, caindo os juros, o câmbio tenderá à paridade 1 US$ = 1 R$. 3 - Nível de atividade - Os negócios estão "muito parados", ouviu o ministro. E devem permanecer assim enquanto os juros não caírem substancialmente. Rosemberg disse a Ricupero para não se preocupar com uma eventual explosão de consumo, hipótese que considera descartada. A preocupação central, portanto, deve ser com o inverso, ou seja, com uma forte recessão. 4 - Salários - O ministro foi avisado de que os sindicatos tendem a pedir o máximo, nos seus respectivos dissídios, com o que se corre o risco de que o empresariado ceda e transfira o custo adicional para os preços. Vicente Paulo da Silva, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), confirmou essa hipótese à Folha, embora ressalve que os sindicatos ainda estão na fase de avaliação do plano. "O TST tem derrubado restrições a aumento de salários", afirma Vicentinho, para quem os salários estão congelados na prática embora não na lei. Próximo Texto: Ração vai subir 15% e deve encarecer leite Índice |
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