São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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Os jacobinos e o poder

LUÍS NASSIF

O episódio José Paulo Bisol (financiamentos favorecidos, valendo-se de sua condição de desembargador e deputado) é um exemplo desse modelo torto que rege as relações institucionais brasileiras.
É eloquente pelo porte da figura, um senador da República capaz de distribuir acusações contra terceiros com a sem-cerimônia de um cabeleireiro. Mas, se se basear na literatura política brasileira, é banal, tão velho quanto a colonização, mais velho que a República.
O estilo é ousado. Primeiro, trata-se de conquistar espaço político com uma verborragia candente em defesa da cidadania, da "res publica".
A seu modo, esses catões exibem a mesma ousadia de empreendedores privados, quando iniciam seus negócios. Têm a visão pioneira de perceber prêmios e benesses futuras, onde seus contemporâneos enxergam apenas riscos. Com base nessa visão de longo prazo, tornam-se ousados, capazes até de gestos de grandeza e de risco, única maneira, aliás, de galgar a carreira pretendida.
Conquistado o espaço político, passam a agir como verdadeiros donos do Estado. Tratam de obter fatias do bolo, para si e para os seus, escudando-se em uma ética toda própria.
Como são centuriões que defendem o Estado dos prevaricadores privados, as benesses obtidas não são vistas como avanços indevidos sobre recursos públicos, mas como justa recompensa que a política reserva aos vitoriosos.
Num horizonte de dois séculos de empulhação, o senador Bisol errou por 24 meses (embora os financiamentos sejam de dez anos atrás, quando o senador já era poder). Desde que o país se uniu para tirar um presidente do cargo, nem a corte do Rei Sol, nem os jacobinos, podem mais abusar da cidadania.
Filas em expansão
A abertura de cadastramento de planos de expansão pela Telesp é uma amostra evidente do que virou o modelo telefônico brasileiro. Cerca de 20 mil pessoas nas filas durante dias e dias, sem sair sequer para ir ao banheiro.
Tudo isto pelo direito de começar a pagar agora por um telefone que sabe-se lá quando será entregue –visto que a empresa não colocou em dia sequer os planos atrasados.
Fila dessa magnitude fala mais do que mil campanhas defendendo o atual modelo brasileiro, estatal não-competitivo.
A propósito, a Telerj, do sr. José de Castro, resolveu definitivamente o problemas das filas: simplesmente fechou os planos de expansão. Telefone no Rio só por herança.
Movimento independente
Recentemente o ex-consultor da República José de Castro apresentou-se à campanha do senador Fernando Henrique Cardoso como representante do presidente da República, Itamar Franco. Sua ajuda foi recusada e há suspeitas que sequer o presidente, seu amigo, soubesse de seu oferecimento.
Agora, José de Castro anuncia que lidera um tal Movimento Independente pró-Fernando Henrique que já conta com tesoureiro. Papel de tesoureiro é administrar dinheiro, ou não?
Está-se confundindo campanha política com banca de ambulante. Seria conveniente que o Tribunal Superior Eleitoral analisasse seriamente de onde provêm as verbas de tal movimento para que não se perca o controle sobre contribuições de campanha.

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