São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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"Precisamos errar menos", diz Dunga

FERNANDO RODRIGUES; MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS A LOS ANGELES

'Precisamos errar menos', diz Dunga
Magoado com as críticas que a seleção recebe, o volante é um dos precursores da expressão 'o grupo está unido'
Carlos Caetano Bledorn Verri, 30, o Dunga, é um dos jogadores mais importantes na seleção brasileira de Parreira.
Vital para desarmar os adversários, Dunga agora também tem sido um dos principais batedores de falta do Brasil. Não conseguiu marcar gols nesta Copa do Mundo.
Mas Dunga, também o capitão do time, vai continuar tentando chutes de fora da área. Apesar de ter errados todos até agora.
"Acho que precisamos errar menos. Temos que melhorar e aperfeiçoar o time. Como em todos os Mundiais, a equipe que erra menos é a que vence", diz.
Embora negue, Dunga é um dos jogadores mais irritados com o tratamento que a imprensa dá à campanha da seleção brasileira.
Na condição de um dos líderes do time, apoiou a idéia de os jogadores diminuirem ao máximo o contato com jornalistas.
"Não tem mágoa", disfarça. Dunga é um dos precursores da expressão "o grupo está unido", o principal bordão do time neste Mundial. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - A seleção brasileira está na semifinal, mas continua sendo criticada pela forma de jogar. Na sua opinião, por que acontece isso?
Dunga - Acho que isso já era esperado. É uma característica do povo brasileiro, de sempre exigir mais. E, também, de se ressaltar sempre os aspectos negativos, os defeitos, e não as qualidades.
Folha - O Brasil vai jogar contra a Suécia. Como você avalia esse adversário?
Dunga - É uma boa seleção. No último jogo, o resultado de 1 a 1 foi consequência de vários fatores, como o campo pequeno. Mas cada jogo é uma história. Agora, será diferente.
Folha - Mas como joga a seleção da Suécia?
Dunga - É um time que se arma muito bem. É tecnicamente quase perfeito, jogando no 4-4-2. Eles não deixam espaços entre a defesa, meio-campo e ataque. Jogam curto e duro. Para ganhar, teremos que ter muita paciência, fazer a bola trocar de lado e esperar a oportunidade certa.
Folha - Os jogadores brasileiros preferiam enfrentar a Suécia na semifinal?
Dunga - Olha, quando se chega nesta altura da competição não dá para ficar escolhendo adversário. Para nós, o que importa é ter conseguido passar para esta fase.
Folha - O que o Brasil precisa fazer nas próximas duas partidas para vencer?
Dunga - Acho que precisamos errar menos. Temos que melhorar e aperfeiçoar o time. Como em todos os Mundiais, a equipe que erra menos é a que vence.
Folha - Há dois jogos você é capitão do time, qual é sua avaliação sobre essa nova função?
Dunga - Ser ou não ser o capitão não é importante para mim. Já tinha sido capitão antes. É apenas uma função a mais. O importante é jogar pelo time. É isso que eu sempre procuro fazer.
Folha - Até que ponto a organização da seleção brasileira, em termo de infra-estrutura, tem ajudado o time?
Dunga - Tem sido perfeito o planejamento. A gente não tem do que reclamar. E eu sei que todas as seleções que hoje pretendem ganhar uma Copa do Mundo tem que ser organizadas ao extremo.
Folha - O técnico Carlos Alberto Parreira costuma se referir ao último jogo contra a Suécia como se fosse um amistoso. Os dois times já estavam classificados. O que muda agora?
Dunga - Pode ter tido ritmo de amistoso, mas as críticas que recebemos depois não foram como se tivesse sido um amistoso.
Folha - O Brasil terá alguma vantagem sobre a Suécia pelo fato de ter jogado um dia antes e não ter ido para a prorrogação e pênaltis?
Dunga - Está todo mundo falando isso, mas não é bem assim. Se você olhar bem o segundo tempo do nosso jogo contra a Holanda, a bola não parou um minuto. Foi muito desgastante. Já no jogo da Suécia contra a Romênia, o ritmo foi bem menor, apesar de eles terem ido para a prorrogação.
Folha - Toda vez que você concede uma entrevista parece falar com ressentimento da imprensa e das críticas que o time recebe. Isso acontece?
Dunga - Não. Não tem mágoa. O fato é que em 82 a seleção jogou bonito e não pelo resultado. Acabou sendo criticada. Agora, o time tenta fazer um equilíbrio, busca o resultado, está ganhando, mas continua sendo criticado.
Folha - A seleção brasileira continua estressada, como na semana do primeiro jogo contra a Suécia, em Detroit?
Dunga - O estresse é e sempre será grande por causa da cobrança, mas o grupo está unido e tem muita experiência. (FR e MM)

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