São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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Quarteto de cordas Turle Island faz apresentação em São Paulo

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Turtle Island String Quartet e Orquestra Jazz SinfônicaOnde: Memorial da América Latina (r. Mário de Andrade, 664, tel. 011/823-9787)
Quando: Hoje, às 21h
Quanto: entrada franca, ingressos devem ser trocados por agasalhos na bilheteria do teatro a partir das 15h

O Festival de Inverno de Campos do Jordão deveria mudar de nome este ano para World Music Festival. Ou Sampa Fest, a exemplo do Bahia Fest. Pouca música erudita aconteceu. As grandes atrações são quase todas folclóricas ou ligadas ao pop.
Hoje se apresenta no Memorial da América Latina o quarteto de cordas Turtle Island. O grupo pratica música pop californiana e grava para um selo new age. Os instrumentistas exibem penteados ao estilo de Simply Red e fizeram sucesso entre as jovens bolsistas em Campos do Jordão.
O Turle Island deve repetir hoje o coquetel de música "gostosa" de Dizzy Gillespie ("Night in Tunisia") e Jeff Beal ("Interchange", uma homenagem às "highways" de Los Angeles). O público de Campos do Jordão amou a fórmula na última sexta-feira.
Mas ao grupo não sobrou mérito. No palco, os cabeludos requebraram mais do que emitiram sons coerentes. Fizeram solos de penteados como se fossem roqueiros. Para suplantar a terrível algaravia timbrística da Jazz Sinfônica, eles usam amplificadores. A orquestra reage e se aplica naquilo que mais sabe: produzir ruídos os mais bizarros. Um suplício.
Búlgaras
As Vozes Búlgaras, que de mistério têm muito pouco, corroboraram no sábado a vocação antropológica do festival.
O "showcase" de folclore búlgaro agradou tutsis e hutus. As 23 cantoras se vestiram com trajes típicos de todas as regiões do país. Acompanhadas por um quarteto, berraram com emoção duas dezenas de canções rituais da Antiguidade e Idade Média.
As búlgaras conseguiram transformar sua TPM em arte transcendental. Quem foi pensando em relaxar saiu assustado com os ganidos em segundas e sétimas diminutas das moças.
As cantoras búlgaras vão embora hoje, deixando uma lição de jovial furor uterino para as cantoras brasileiras, hoje incapazes de sentir ou transmitir prazer em palco.
Mas considerar o coro algo renovador no século 20, como quer a organização do festival, está errado. Esse tipo de apresentação coral foi inventada pelos comunistas nos anos 50 para conservar o folclore. É um portento do canto orfeônico jdanovista preservado para as futuras gerações.

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