São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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O preço dos juros

O governo está preocupado com alguns pontos que podem vir a ameaçar o programa de estabilização. São eles os juros, consensualmente apontados como muito elevados neste momento inicial do real; o câmbio, já que a supervalorização da moeda pode ter impacto negativo sobre as exportações; o nível de atividade, ou seja, a perspectiva de que a estabilização monetária seja acompanhada de uma recessão indesejável; e, por fim, a questão salarial, dado que a tendência dos sindicatos será a de reivindicar, nas respectivas datas-base, a recuperação de perdas salariais, supostas ou reais.
Todos os quatro temas são relevantes, mas o que parece mais urgente é o dos juros, até porque interfere em todos os demais.
São óbvios os inconvenientes de se manter o patamar atual dos juros, em torno de 8% ao mês. De um lado, há o impacto sobre as dívidas do governo, com repercussões sobre o equilíbrio fiscal. De outro, há o efeito recessivo dos juros altos.
Há ainda um terceiro fator de inquietação: a dificuldade de manter os preços estáveis quando as empresas lidam com um custo financeiro que na prática ultrapassa os 8% ao mês. O governo foi informado de que o setor do açúcar preparava-se para aumentar seus preços por um único motivo: adaptar-se aos juros de 8% cobrados pelo mercado. Se esse movimento defensivo entrou na agenda de um setor da economia, o lógico é supor que também outros estejam passando por idêntica situação.
Criam-se assim circunstâncias delicadas para a administração do plano. Embora os juros estejam de fato elevados, parece razoável crer que, na fase inicial do plano, é melhor errar por excesso do que por insuficiência. Uma redução drástica dos juros poderia provocar, além de uma fuga de capitais, uma transferência de recursos de aplicações financeiras para o consumo, o que, por sua vez, pela inescapável lei da oferta e da procura, puxaria os preços para cima.
Mas manter juros muito elevados também empurra os preços para o alto. Trata-se, portanto, de uma questão de sintonia muito fina. Que os juros precisam cair, é consensual. Mas o governo não pode errar o "timing" da operação, sob pena de afetar negativamente o plano, seja por excessiva presteza ou excessiva demora.

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