São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 1994 |
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Conheça os efeitos do dinheiro caro
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Os efeitos colaterais mais importantes também são três: alta de preços em alguns setores, queda nas atividades econômicas e mais despesas do governo com pagamento de juros. Ponto por ponto, eis como a coisa funciona: Juros acima da inflação - A taxa de juros precisa ficar acima da inflação para manter positivas as aplicações financeiras. O governo, em especial, precisa pagar juros positivos porque senão ninguém compra os papéis do BC. E o governo, para se financiar, precisaria emitir dinheiro, o que está proibido. O problema aqui é que ninguém sabe qual será a inflação de julho. Por isso, o BC colocou juros muito altos, para não errar. Percebendo mais claramente a taxa de inflação, vai baixando os juros. Redução de preços - Quando os juros estão altos, a indústria não pode guardar estoques. Se for tomar dinheiro em banco para girar suas atividades, vai pagar muito caro. Assim, a indústria tem de vender mercadoria para o supermercado, mesmo com lucro menor, para fazer caixa para suas atividades. E a desova de estoques leva preços para baixo. Caderneta de poupança - É o símbolo do pequeno poupador. Tem que ficar atraente. Se não, o pessoal tira o dinheiro e sai comprando qualquer coisa. Isso aquece o consumo de varejo e favorece alta de preços. Reverso Os efeitos colaterais negativos funcionam assim: Recessão - Quando os juros são muito elevados, não vale a pena produzir nada. É melhor deixar o dinheiro aplicado no banco. Dá mais lucro que qualquer atividade produtiva. Alta de preços - Há negócios e empresas que, sem capital próprio, precisam de financiamento para funcionar. Esse financiamento é custo. Com juros mais altos, o custo é maior. E o sujeito tem de vender a preço maior. Gasto público - O governo federal é devedor. Bancos e instituições financeiras têm títulos do BC no valor de R$ 27 bilhões. Emprestaram esse dinheiro ao governo e ganham juros por isso. Quanto mais alta a taxa de juros, maior a despesa do governo. Neste ano, o governo já pagou R$ 2 bilhões de juros. A previsão é pagar mais R$ 2,6 bilhões até o final do ano. Essa conta foi feita conforme juros efetivos da era pré-real, que eram menores que os atuais. Balanço Toda ação de política econômica tem verso e reverso. Arruma aqui, desarruma ali. Sempre é preciso fazer o balanço para saber se o que se ganha compensa o que se estraga. No momento, a equipe econômica acha que precisa manter juros muito altos no primeiro mês de real. O prêmio maior a buscar é uma forte queda da inflação, para perto de zero já em agosto. Sendo em período curto, calcula o BC, os efeitos negativos dos juros altos deixariam estragos apenas transitórios. É certo, portanto, que os juros estão caindo e vão cair ainda mais. O problema é acertar a mão. Se caírem muito depressa, comprometem a meta de inflação baixa. Se ficarem altos muito tempo, comprometem a atividade econômica. E não adianta nada ter inflação zero numa economia morta. A favor do BC está o fato de que a política pode ser avaliada dia a dia. Há instrumentos de medida e o ministro Rubens Ricupero tem sido competente: ouve todo mundo, diariamente. Texto Anterior: Compulsório tira R$ 1,5 bi Próximo Texto: Investidor estrangeiro continua nas Bolsas Índice |
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