São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 1994
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Vácuo no ensino

Merece louvor a iniciativa de empresas privadas que nos últimos anos têm "adotado" escolas públicas estaduais e municipais de São Paulo, contribuindo para melhorar suas instalações e elevar o grau de empenho de seus professores. Por melhores que sejam os resultados dessas experiências e as intenções que as motivaram, entretanto, elas não podem ser vistas como um caminho para a superação da falência do ensino público. São, isso sim, mais um sintoma dessa falência, a mostrar que o Estado há muito tempo não vem cumprindo sua responsabilidade de garantir a instrução básica de sua juventude.
A contribuição de empresas privadas ao ensino fundamental não chega a ser uma novidade. Basta lembrar o exemplo do Bradesco, que conta hoje com 36 escolas espalhadas pelo país, frequentadas por 92 mil alunos. A novidade das formas mais recentes de parceria empresa-escola é o investimento em unidades escolares da própria rede oficial. Em qualquer dos casos, entretanto, não se trata, é óbvio, de uma atribuição –e muito menos de uma obrigação– que caiba à iniciativa privada. A ação desta acaba até, paradoxalmente, encobrindo a ineficiência e a incompetência do poder público no setor.
O que parece cada vez mais indiscutível –e as próprias experiências de "adoção" de escolas o demonstram– é a necessidade de reformular substancialmente o modelo do ensino público, sobretudo nos seus níveis básicos. Descentralização e desburocratização parecem ser conceitos-chave para tal reformulação. Atacar o desperdício e a falta de eficiência na rede oficial de educação, bem como descentralizar cada vez mais a sua gestão e aumentar sua produtividade –através, por exemplo, de uma política de valorização dos educadores–, são tarefas inadiáveis. Enquanto não forem enfrentadas, qualquer tentativa de suprir as carências da escola pública terá necessariamente um alcance limitado e paliativo, por mais louváveis que forem os seus propósitos.

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