São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Experiência perdida

EXPERIÊNCIA PERDIDA

O tratamento diferenciado das denúncias que atingem os candidatos a vice José Paulo Bisol e Guilherme Palmeira, explicável em função da candidatura presidencial a que cada um deles se liga, estava previsto e é só uma leve amostra do que se verá à proporção em que as eleições se aproximem. Nem por isso são menos relevantes as questões que suscita desde logo.
Passada a experiência mortificante das suas relações com a maioria dos meios de comunicação na campanha presidencial de 89, Lula e os petistas não extraíram daí qualquer ensinamento inovador. Chegam à atual campanha tão desguarnecidos quanto naquela. Durante os cinco anos entre uma e outra, não cuidaram de munir-se dos meios de dar ressonância às suas respostas às investidas previsíveis. E de fazer, se necessário, suas próprias ofensivas.
Seja o que for que tenha levado Lula e o PT a negligenciar a providência preventiva, já está claro que partiu do descaso pela experiência de 89. E quem despreza experiência, paga. Não bastando as próprias CPIs de Collor/PC e do Orçamento mostraram que o jornalismo autoconcedeu-se liberdades muito maiores, desde a primeira daquelas comissões. Ali, e depois na do Orçamento, tornou-se permitido publicar as maiores acusações sem sequer as menores verificações. Um procedimento que se manifestou como tendência nos casos Magri, Alceni Guerra e esquema PP, consolidou-se nas CPIs e contra o qual não há defesa possível para a vítima da campanha. São infinitos os recursos "jornalísticos" para esvaziar-lhe a defesa, por mais fundamentada que seja, e continuar manipulando os fatos acusadoramente.
Entre as acusações a Bisol, algumas evidenciam esse comportamento. Na terça-feira, por exemplo, um jornal do "Estado de S.Paulo" publicava que Guazelli, governador gaúcho em 78, "escolheu Bisol" para desembargador por um acordo político e o fez "contra a vontade dos demais desembargadores"'. Lá para as tantas, informa que "na lista tríplice então encaminhada ao governador, além de Bisol estavam os juízes" tal e tal. Omite quem encaminhou. Claro, pois as listas tríplices são feitas pelos desembargadores que, afirmara o texto, foram todos contrariados pela escolha do governador.
Mas a "reportagem" era para denunciar, segundo a manchete, que "Bisol se aposentou depois de sete meses". Embora na 59ª linha impressa, seja admitido que ele estava "na magistratura desde 1.955". E "só tinha 25 anos de atividade em 79". Só. Um quarto de século. E "precisou usar mais seis anos de trabalho em outras profissões para atingir o tempo mínimo necessário à aposentadoria. Foram "seis anos (também) de trabalho" ou foi malandragem? E as aposentadorias em geral não são pela soma das atividades, ou, sem o saber até esta edificante leitura, estarei impedido de me aposentar por ter tido desde rapazola uma porção de atividades diferentes? Preciso continuar lendo estes jornalistas sérios para me orientar.
Já o senador Guilherme Palmeira vê as denúncias contra si tratadas com moderação, por uns, e simplesmente com silêncio, por outros. Ele é autor de três emendas orçamentárias que beneficiaram com quase US$ 2 milhões três obras entregues à mesma empreiteira, a Sérvia. Mas, no seu caso, não é necessário invocar a falta de provas de má-fé. É suficiente a condição de vice de Fernando Henrique.
Jamais estive entre os que consideram, ou consideraram, que a posição de Lula nas pesquisas tornou inquestionável o seu êxito. Se não conhecesse o meu meio, seria tão negligente quanto Lula e o PT a respeito dele.

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