São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Juro alto é insustentável, diz Fiesp

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) voltou a bater forte na política "insustentável" de juros altos que está sendo praticada pelo governo.
Segundo um estudo de seu Departamento de Economia, a Fiesp diz que a cada ponto percentual a mais nos juros corresponde a um aumento de 8,2% nos custos finais na cadeia de produção.
A Fiesp argumenta que os juros altos provocam pressão de aumento dos preços e prejudicam os objetivos da estabilidade econômica.
Mario Bernardini, diretor do Departmento de Economia da Fiesp, diz que os agentes econômicos são atualmente "cobaias" da política de juros do Banco Central.
Ele diz que isso é resultado da manutenção pelo Banco Central, por segurança na gestão do Plano Real, dos juros nominais e reais em níveis muito elevados.
O diretor da Fiesp afirma que juros nominais de 8% ao mês são insuportáveis porque pressionam custos na cadeia de produção de uma forma brutal.
"A Fiesp está preocupada porque a política de juros que está sendo praticada não permite a manutenção dos preços em níveis estáveis", diz.
"Nosso estudo mostra que ao longo da cadeia produtiva, um ponto percentual de alta dos juros ao mês implica aumentos de custos de cerca de 8% no produto industrial final", afirma.
"A persistir essa taxa de juros por mais de 30 dias, nossos custos ficam incompatíveis com os objetivos de estabilidade dos preços".
Mario Bernardini discorda do uso pelo governo da arma dos juros altos na tentativa de forçar alguns setores da economia a reduzir estoques e preços.
O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, acha que alguns setores colocaram "gordura" nos preços, aumentos preventivos na passagem para o real.
Mario Bernardini considera "defensável" o ponto de vista do ministro Rubens Ricupero segundo o qual juros altos dificultam a manutenção de estoques pela indústria e comércio.
Isso, raciocina o governo, pressionaria a indústria e o comércio a vender, aumentando a oferta e baixando os preços finais pagos pelos consumidores.
Mario Bernardini argumenta, porém, que "do outro lado da medalha", os custos financeiros (juros) pressionam os custos finais de qualquer produto.
"Se de um lado se tem pressões para baixar preços, de outro se tem pressões de custos para aumentar preços e pagar juros", disse.
O diretor da Fiesp diz que o sucesso do Plano Real depende agora da busca de um "justo compromisso" entre essas duas questões.
"Caso contrário a tendência de que quem não aumentou os preços pague o pato por quem eventualmente aumentou vai ser confirmada", disse.
Mario Bernardini refuta a tese do governo de que os preços da indústria estejam com "gorduras excessivas". Para ele, "a maior parte da indústria está em regime há muito tempo".
Ele diz que esses juros elevados, que prefere chamar de agiotagem, não são praticáveis por tempo longo, o que para a Fiesp é um prazo inferior a um mês.
Bernardini diz que em uma economia estável, com moeda comparável ao dólar e uma inflação de 2% a 3% ao ano, a taxa de juros administrável nessas condições deveria ser de 4% a 5% ao ano acima da inflação, ou seja um total de 6% a 8% ao ano.
"Como estamos numa situação de 8% ao mês, é óbvio que o abismo entre o que é suportável e o que estamos vivendo não pode perdurar ao longo do tempo", conclui Mario Bernardini.

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