São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Falta dinheiro e taxas de juros sobem

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros dos negócios diários entre bancos (CDI) voltaram a subir ontem. A taxa do CDI serve de base para o cálculo da TR (Taxa Referencial), que corrige os saldos das cadernetas de poupança, e para o conjunto das taxas que remuneram ou são pagas no crédito pelo setor privado.
No mercado futuro, o juro acumulado do CDI previsto para este mês subiu para 7,02% contra 6,96% no dia anterior.
Pela primeira vez desde a implantação do real, o juro do CDI ficou acima da taxa paga pelo Banco Central (BC) no mercado diário de títulos públicos (overnight): 0,381% ao dia contra 0,378%, respectivamente.
Os analistas ouvidos pela Folha disseram que a alta dos juros é fruto do enxugamento de liquidez que está sendo promovido pelo BC.
Ontem, os bancos depositaram pela primeira vez o compulsório de 100% sobre contas correntes. Ou seja, o crescimento dos depósitos em conta corrente, em relação ao final de junho, será obrigatoriamente depositado no BC. É dinheiro que saiu de circulação.
Segundo avaliação dos bancos, serão recolhidos pelo compulsório entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões.
O crescimento dos depósitos em conta corrente é um dos efeitos esperados da queda da inflação. Como diz Pedro Bodin, ex-diretor do BC e, atualmente, no banco Icatu, o dinheiro "deixou de ser uma batata quente".
Basicamente, o que está acontecendo é o seguinte: 1) cresceram os depósitos em conta corrente e na caderneta de poupança; 2) diminuíram os recursos que estavam depositados nos fundos (como o fundão, o de commoditties etc.).
Como resultado destes movimentos de migração, a demanda por CDBs dos fundos caiu. Logo, os bancos que captavam recursos via CDBs foram obrigados a buscar tomar recursos no CDI.
Mas a oferta de dinheiro no CDI também caiu. "A alta das taxas do CDI já um reflexo do enxugamento da liquidez do sistema", diz Cândido Bracher, do banco BBA Creditanstalt. "É notório que houve um enxugamento da liquidez", afirma Celso Scaramuzza, do Unibanco, que completa:
"Na sexta-feira, o BC não deve deixar os juros caírem. O risco é o rendimento da caderneta ser negativo se comparado com o IPC-r."
Somente o enxugamento da liquidez já faria com que os juros subissem (o juro é o preço do dinheiro), mas ele provocou um outro efeito. "Houve uma diferenciação dos juros no CDI", afirma Scaramuzza. Os bancos pequenos passaram a pagar um juro maior, enquanto os grandes, menor.
O comportamento das taxas de juros reabriu a discussão sobre o aperto ou não das metas estabelecidos na MP do real.
"As metas são apertadas", diz Bodin. Para ele, o BC precisaria rever o tamanho do compulsório (reduzir os 100%), sob pena de "promover um aperto monumental na liquidez e jogar o país em um processo de recessão profunda".
Bodin diz ainda que "é um problema de dosagem. Não se pode administrar uma quantidade de remédio que mate o doente".
A conta que se faz para dizer que as metas são apertadas é a seguinte: a base monetária (dinheiro em poder do público mais reservas bancárias) estava em R$ 3,5 bilhões e, com o recolhimento do compulsório, passou a ser de R$ 5,5 bilhões. A meta é chegar em setembro com R$ 7,5 bilhões.
Mas há quem discorde. Alguns analistas dizem que não haverá crescimento indefinido dos depósitos à vista. Vai depender do tamanho dos juros.

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